A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

FIGURAS DE LINGUAGEM

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

FERRAMENTAS LITERÁRIAS

quinta-feira, 8 de março de 2018

Só podia ser olho gordo - Hirtis Lazarin


Imagem relacionada

Só podia ser olho gordo
Hirtis Lazarin

Itaoca, uma cidadezinha do sertão maranhense, estava pra sumir do mapa.  Os moradores mudavam-se aos poucos, em busca de estudo e trabalho nos centros mais prósperos.

Depois de conversas e desconversas, João Teodoro aceitou o cargo de delegado.

Não havia homem melhor que ele pra ocupar esse cargo.  Nasceu em Itaoca e sempre se orgulhou de ser honesto, trabalhador e cheio de prosa.

Pensou ele: "Não vou ter tanto pra fazer aqui.  Nossa cidade é pacata, todos se conhecem e há mais de quinze anos não acontece um roubo de doce de padaria".

Os dias foram passando tranquilos.  A única preocupação de João Teodoro era abrir a delegacia bem cedinho e fechá-la às dezoito horas.

Até que, numa segunda-feira como outra qualquer, altas horas da noite quando a cidade dormia, ouviram-se explosões e mais explosões de bombas.

As janelas todas abriram-se simultaneamente.  Os curiosos queriam saber quem eram os autores dessa brincadeira.

Esse seria, até agora, o trabalho mais sério que apareceu pra João Teodoro resolver.

Ele não perdeu tempo, pulou da cama, vestiu a farda, municiou o trinta e oito herdado do pai, fabricado na década de vinte.

Todo imponente apareceu na rua principal de Itaoca.

Foi recebido por rajadas de metralhadora, que só silenciaram, assim que o delegado caiu esparramado no chão.

Sangue escorreu em quantidade suficiente pra colorir o asfalto.

A quadrilha acabara de explodir o único caixa eletrônico da cidade.  Deixaram a cidade acenando para o povo assustado que espiava por trás das janelas entreabertas. 

Hoje João Teodoro ocupa o mausoléu mais" chic" do cemitério.  Um presente dos itaoquenses.  Ninguém se conformava com a morte violenta do ilustre cidadão.

Flores silvestres nasceram ao redor do túmulo, de livre e espontânea vontade.
E Itaoca, finalmente, desapareceu do mapa.  

O delegado - Henrique Schnaider



Resultado de imagem para desenho de delegado

O delegado
Henrique Schnaider


João Teodoro aceitou emocionado o cargo de Delegado da pequena Itaoca.

Foi programada a solenidade de posse, com a presença de todas pessoas ilustres da cidade, inclusive o Prefeito.

No dia, pediram ao pobre coitado que fizesse um discurso, deixando o infeliz engasgado, já que era analfabeto e com muitas dificuldades de oralidade, mal conseguiu balbuciar algumas palavras.

O público levado pelo entusiasmo com a nova autoridade da cidade, aplaudiu delirantemente, como se tivessem, acabado de ouvir uma peça oratória de Rui Barbosa.

Assim, prosseguiu a festa da posse daquele João ninguém que se desmanchava em mesuras a todas as pessoas presentes.

No dia seguinte assim que acordou, João Teodoro partiu a procura da Professora Antônia, única mestra de Itaoca.

O recém-nomeado Delegado, muito tímido, queria que a mestra lhe ensinasse o b a bá , mas queria que ela mantivesse sigilo, pois não seria interessante, que Itaoca, soubesse que o novo Delegado da cidade era completamente analfabeto.

Com o correr dos dias, ele foi dominando as letras e ficava cada vez mais sabido, aprendendo tudo sobre a língua e finalmente, acabou alfabetizado.

Nova festa na cidade e chamam João Teodoro para fazer um discurso para a Santa Padroeira, e para assombro de todos cidadãos de Itaoca, ouviram um discurso de um grande orador, com muitas qualidades, a ponto de falar por mais de uma hora.

Assim João Teodoro, se tornou, um respeitado Delegado e uma das pessoas mais ilustres da cidade, a ponto de ter sido convidado, para ser o paraninfo da formatura dos alunos da Professora Antônia, que feliz da vida, sabia que havia mudado a vida daquele homem.


A voz do mar é sedutora e nunca cessa. - Ilka Andrade


Resultado de imagem para a maré alta

A voz do mar é sedutora e nunca cessa.
Ilka Andrade

Ele é monitorado pela gravidade da lua e do sol

Observando um Mar litorâneo as ondas formadas pelo vento avançam na areia e ao retornar deixam a areia limpa e úmida. Com os pês no chão sentimos a areia macia ou áspera, quente ou fria úmida ou seca, neste contato absorvemos a textura da água do mar a qual nos dá um ar de liberdade! A maré é inconstante muda nas 24 horas. Mesmo sendo de água salgada há momentos em que ela nos transmite calma e doçura! No descer do dia ela se manifesta, ondas volumosas, audaciosas que ao recuar formam buracos com rodomoinhos capazes de engolir um ser humano. Baixando a maré, volta a calmaria.

O volume e a beleza da água transparente nos dão um bem-estar.  A voz do mar fala com a alma e tem um toque sensual que envolve o corpo.

Vamos agradecer a Deus. Somos abençoados por que temos o sol, o céu, e o mar.

JOÃO VALENTÃO - Henrique Schnaider



Imagem relacionada

JOÃO VALENTÃO
Henrique Schnaider


Os anos se passaram e João Teodoro, casou-se com uma das mais belas moças de Itaoca, Jussara. Formou uma bela família de três filhos, dois homens e uma linda garota. Tinha como sogro, o prefeito da Ernestinho Veiga, político corrupto, venal e perigoso, pois mandava seus capangas matarem os adversários, não só políticos como, qualquer um que tivesse coragem de se indispor contra ele.

A autoridade de João sobre a cidade era indiscutível, a ponto de os cidadãos de Itaoca passarem a temer a figura do Delegado, e já havia um burburinho, entre as pessoas tramando a demissão da autoridade máxima do Município.

João e Ernestinho se entendiam, cada vez melhor. O Delegado, começou a dar cobertura a todas atividades ilícitas do sogro, desovando cadáveres em valas sem nome, daqueles que eram assassinados pelos capangas do Prefeito.

Certa noite, destas que as pessoas têm medo de sair de casa, escura como breu, com raios cruzando os céus durante a chuva, na calada da noite percebiam-se vários homens de aparência sinistra, caminhando em direção a ponte que cruza o Município de Itaoca, carregando o que parecia ser, vários corpos inertes, possivelmente assassinados pelos capangas de Ernestinho.

Os suspeitos atiraram os corpos de cima da ponte no rio. No dia seguinte, cinco corpos de pessoas barbaramente assassinadas, são encontrados, boiando no rio.
A cidade toda, ficou em polvorosa, o assunto era só esse, todo mundo revoltado com as coisas horríveis que aconteciam, transformando, Itaoca, em lugar sem lei.

Os cidadãos, se uniram em grande número, dirigindo-se a delegacia, estavam furiosos, exigiam que a Justiça fosse feita com a prisão daqueles jagunços, os quais, faziam o que bem entendiam na cidade, como se fossem donos da mesma.

João Teodoro recebeu a multidão enfurecida, na porta da Delegacia, encarou a todos, sem demonstrar nenhum receio, enfrentando-os de peito aberto e de armas nas mãos, acompanhado dos jagunços de seu sogro, que também estava ali, desafiando as pessoas, querendo impor ambos, a lei do silêncio.

A turba enfurecida, também não se intimidou e avançaram sobre João, Ernestinho e os capangas, a confusão foi geral, transformando-se numa tremenda carnificina.

João, furioso atirava para todos os lados. A esta altura, dezenas de pessoas já mortas e outras gravemente feridas.

O Delegado que sempre se mostrou, uma pessoa extremamente decente, agora não passava de um facínora sanguinário, um valentão que a tudo enfrentava, cruel, sem o menor sentimento de culpa com a tragédia acontecida.

João e seu sogro estabeleceram a lei do silencio, de recolher aos habitantes de Itaoca, ninguém podia pcolocar os pés para fora de casa. O horror, o medo tomaram conta da cidade.

As pessoas procuravam conversar, achar alguma solução para aquela situação, já que nem sequer era permitida a entrada ou saída de quem quer que fosse, até as ligações foram cortadas. Assim começaram a faltar os gêneros de primeira necessidade.

João Teodoro parecia possuído, com tamanha crueldade de ser indigno, em que se transformara.

Os dias de horror prosseguiam, até que finalmente, depois de um mês nesta situação de pavor, João Vintém como era conhecido um moleque que vivia abandonado nas praças da cidade, conseguiu furar o cerco sem chamar atenção, se dirigiu até a cidade mais próxima bem maior que Itaoca, foi até a Delegacia de polícia de Inhaúmas, denunciou ao Delegado Gentil, tudo o que estava acontecendo.

O Delegado comunicou os fatos relatados, ao comando da Policia Militar da capital, e ao Governador do Estado.

Tropas chegaram a Itaoca, invadiram o quartel general de João Teodoro e Ernestinho Veiga, ambos, foram presos depois de uma certa resistência, juntamente com seus jagunços. Foram removidos para capital onde pagariam na cadeia por muitos anos por todos os crimes cometidos contra a população.

Todos os cidadãos se reuniram na maior praça da cidade, fizeram um acordo para que o novo Delegado fosse uma pessoa digna e alguém da confiança de todos.

João Vintém se transformou no herói da cidade, foi adotado pela Prefeitura que iria dali para frente, dar moradia, custear seus estudos e educação.

Assim, a paz voltou a reinar naquele fim do mundo, onde Itaoca existia. Logo João Teodoro, bandido e traidor, facínora, foi esquecido por todos.

JOÃO TEODORO – O HERÓI - Isabel Conde



Resultado de imagem para cidade abandonada
JOÃO TEODORO – O HERÓI
Isabel Conde

João Teodoro, que nunca quis ser nada, começou a pensar sobre aquela inesperada nomeação para delegado da pacata e decadente Itaoca, a cidade se seu coração. Itaoca, onde nada havia para ser feito, especialmente como delegado.

Tinha nascido e crescido lá, viu a cidade definhar a cada dia, mas mesmo assim ele amava tanto o lugar que acabou passando a vida apenas a observá-la e, na verdade, a ruir junto com ela.

Pensou que talvez tivesse sido porque faltou algo de muita importância para a cidade e para ele próprio, só não sabia o que!

Resolveu sair para caminhar pelas ruas de Itaoca, a fim de arejar um pouco a mente e tentar pensar em como a vida da cidade e a de seus moradores tinha ficado tão difícil ali, a ponto de não se manter.

 Viu   as ruas e as casas, quase tudo   desabitado. Um sol forte que tornava o ambiente árido fazendo tudo ficar como que amarelado.

Viu a pequena, mas linda igreja que permanecia em frente ao que tinha sido um dia, a praça da cidade. Hoje mais parecida uma obra de arte coberto por um pó uniforme... Desde os bancos espalhados por ela fazendo um corredor que levava à igreja, até o coreto, já destelhado, bem no centro do largo.

Passou pelo Fórum   que tinha sido muito importante em idos anos. O jardim que o rodeava, agora   com o capim alto e ressecado. Tudo fechado e cheio do mesmo pó que cobria todo o resto.

Em outra rua próxima, fechados, estava o que tinha sido o comércio de itaoca: um armazém, duas quitandas, uma farmácia, que chamavam de botica em sua infância. Tudo coberto daquele por aquele fino pó. Tudo muito só!

 As   casas por onde passou o fizeram lembrar a alegria, da qual tinham sido testemunhas, pois sua infância, junto com todos os que ali moraram, haviam sito muito felizes. Entre pega-pega, pique - esconde e outras brincadeiras, lembrou com saudade das vezes que se sentou nos degraus das casas de seus amigos para brincar as cinco pedrinhas, já à noitinha! Quando as mães chamavam, era hora de dormir. No dia seguinte, tudo começaria muito bem novamente! Todos se reencontrariam logo na primeira hora!

Sim, se encontrariam na Escola, que era um lugar mágico, único! Pensou que ali tinha começado a descobrir a vida... sua vida e a vida de tudo e de todos que estavam à sua volta! As descobertas eram diárias! Aprendeu a ler e a escrever! Podia observar que cada amigo tinha habilidades diferente, que a escola ajudava a aprimorar.

João Teodoro parou alí, em frente à Escola! Ficou alguns minutos olhando-a e ali mesmo resolveu mudar seu destino para sempre, como o de sua querida cidade, mas principalmente o de muitos que ali viveram e que gostariam de ter continuado vivendo.

Teve a certeza de que a coisa mais importante para uma cidade são as pessoas que moram nela. Só as pessoas podem construir um lugar. Mas a questão mais importante que ele descobriu foi que era preciso empoderar as pessoas, e isso não tinha se dado desde muito tempo.

Então, já sabia o que fazer!

Voltou para casa apressado e começou a entrar em contato com os amigos da Escola. Falou com Matilde, Trajano, Carlos, Carmem e Aparecido e como delegado, que agora era, e fazendo uso de todos os benefícios que o cargo lhe concedia, fez propostas de voltarem para Itaoca a fim de reconstruí-la.

Hoje, passados muitos anos, João Teodoro é reconhecido como herói. Ele fez a cidade voltar a se desenvolver por sua atitude de ter conseguido o retorno daqueles antigos amigos, que agora eram profissionais e pessoas de bem, cada qual em áreas diferentes. Muitas outras famílias, ao verem o desenvolvimento de Itaoca ir de vento em polpa, também voltaram a morar e investir na velha Itaoca.

Atualmente a cidade é próspera e as pessoas que lá vivem, muito felizes.
Anos atrás, em frente àquela imagem do o que tinha sido sua escola, ele teve um insight e começou a construção de escolas. Essa foi a decisão que mudou sua vida e a de todos.





Quem era ela? - Hirtis Lazarin

  Quem era ela? Hirtis Lazarin     A rua já estava quase deserta. Já se ouvia o cri-cri-lar dos grilos. A lua iluminava só um tantin...