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quinta-feira, 10 de maio de 2018

Em algum lugar do oceano - Ana Catarina Sant’Anna Maués



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Em algum lugar do oceano
Ana Catarina Sant’Anna Maués

    Permitiram-se uma segunda chance decidindo viajar. Escolheram refazer o passeio de anos atrás ocasião em se conheceram, desta vez no iate, o xodó de ambos. O casal chegou à marina e o barco majestoso de cento e quarenta pés já os esperava. Celso conhecia bem o mar por isso dispensou a tripulação, e em águas azul turquesa lançaram-se.
      Calados estavam já havia algum tempo, ele no timão e ela aproveitando um bom whisky no deck, no horizonte só água. Ele meditava: Que amor é esse que me toma dessa forma, me domina me entontece é tanto amor que maltrata éramos felizes os dias passavam lentos aqui neste barco nos amávamos porque lembrei disto ela está aqui não está podemos fazer de novo teremos a mesma rotina sim é possível basta que eu esqueça tenho que esquecer mas como fazer foi muito cruel me traiu aqui neste lugar absurdo como pode quantos teriam sido só aquele não não ela andava diferente ingrata víbora sempre me dediquei idiota como fui idiota em que estará pensando a vagabunda.
De repente ele acionou o piloto automático e foi até ela. O rosto não estava mais sereno, carregava olhar frio e penetrante tamanha vontade de invadir os pensamentos dela, o ódio fervia dentro e isso era flagrante enquanto se aproximava.
     Ela notou e um frenesi mental se sucedeu. Não devia ter vindo não devia ter confiado está com o olhar daquela noite se me provocar não vou calar desta vez vou reagir se mostrar medo será pior meu Deus será tudo um plano será que quer acabar comigo que faço se me agredir vou revidar vou revidar.
Estela inicia busca rápida em volta procurando com o que se defender caso ele queira agredi-la fisicamente.
― Pensando nele? Fala aí, pode falar sua vagabunda, vamos lavar nossa roupa suja! Como teve coragem! Usar nosso iate, aventureira ordinária! Isso aqui foi um sonho, o nosso sonho. Desgraçada, cretina, eu te dei de tudo. Você não presta.
   Estela, tensa com o corpo a tremer espera por violência. O desespero aumenta porque está só, nas brigas anteriores, familiares ou amigos estavam por perto.
   Inicia-se uma sessão de insultos de parte a parte, o tom de voz aumenta, o ânimo explode, ela atira o copo e acerta em cheio a fronte. A pele abre, o sangue escorre. Ele fica possuído pelo mal, passa a agredi-la com socos e chutes. A luta se instala. Ela também ataca, chegam até o parapeito da embarcação que balança bastante devido a velocidade que apresenta e o agito das águas. Celso aperta com força o pescoço dela e a empurra observando-a sumir na espuma.
   O calor o desperta. A pele arde com as queimaduras do sol, o rosto inflamado estourou em bolhas, pescoço e braços rasgados indicando marcas de unhas, assim ele desperta do que pareceu ser um transe.  Não tem noção de tempo, não sabe dizer se ficou desacordado horas ou dias. Procura por Estela, percebe que está só. O iate sobre um banco de areia com a proa toda destruída. Dentro tudo revirado, louças e móveis quebrados, instrumentos e painel de controle, sem bússola, rádio e o motor em pane. Percebe que será seu fim. Imagens de um passado recente chegam, a consciência aflora. Num choro sem trégua amarga o acontecido e como penitência se entrega, sem reagir, aceita a morte iminente.

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