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quinta-feira, 8 de março de 2018

Só podia ser olho gordo - Hirtis Lazarin


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Só podia ser olho gordo
Hirtis Lazarin

Itaoca, uma cidadezinha do sertão maranhense, estava pra sumir do mapa.  Os moradores mudavam-se aos poucos, em busca de estudo e trabalho nos centros mais prósperos.

Depois de conversas e desconversas, João Teodoro aceitou o cargo de delegado.

Não havia homem melhor que ele pra ocupar esse cargo.  Nasceu em Itaoca e sempre se orgulhou de ser honesto, trabalhador e cheio de prosa.

Pensou ele: "Não vou ter tanto pra fazer aqui.  Nossa cidade é pacata, todos se conhecem e há mais de quinze anos não acontece um roubo de doce de padaria".

Os dias foram passando tranquilos.  A única preocupação de João Teodoro era abrir a delegacia bem cedinho e fechá-la às dezoito horas.

Até que, numa segunda-feira como outra qualquer, altas horas da noite quando a cidade dormia, ouviram-se explosões e mais explosões de bombas.

As janelas todas abriram-se simultaneamente.  Os curiosos queriam saber quem eram os autores dessa brincadeira.

Esse seria, até agora, o trabalho mais sério que apareceu pra João Teodoro resolver.

Ele não perdeu tempo, pulou da cama, vestiu a farda, municiou o trinta e oito herdado do pai, fabricado na década de vinte.

Todo imponente apareceu na rua principal de Itaoca.

Foi recebido por rajadas de metralhadora, que só silenciaram, assim que o delegado caiu esparramado no chão.

Sangue escorreu em quantidade suficiente pra colorir o asfalto.

A quadrilha acabara de explodir o único caixa eletrônico da cidade.  Deixaram a cidade acenando para o povo assustado que espiava por trás das janelas entreabertas. 

Hoje João Teodoro ocupa o mausoléu mais" chic" do cemitério.  Um presente dos itaoquenses.  Ninguém se conformava com a morte violenta do ilustre cidadão.

Flores silvestres nasceram ao redor do túmulo, de livre e espontânea vontade.
E Itaoca, finalmente, desapareceu do mapa.  

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