A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Mistério do céu - Ana Catarina SantAnna Maues


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Mistério do céu
Ana Catarina SantAnna Maues

   Na cozinha um grande alvoroço. As mulheres da família preparavam quitutes para a festa de logo mais a noite. Do quarto escutavam-se as gargalhadas, comentários sobre os fatos do ano que chegava ao fim. São elas minha mãe, irmãs e algumas tias. Agem com indiferença ao esforço que faço. O vestibular se aproxima  e mesmo hoje estou estudando, lendo e relendo os resumos feitos das pilhas de livros que manuseei. Desisto! O barulho é maior do que consigo aguentar. Saio sem avisar. Bato a porta com rebeldia. Quem sabe caminhar molhando os pés no mar alivie a tensão.

   De casa até a praia encontro automóveis, ciclistas, pedestres num indo e vindo eufórico. Do meu ponto de vista todos estão loucos. Amanhã será um dia comum, com um dígito a mais no ano, apenas isso.

   Na areia poucos aproveitam os últimos raios do sol de dois mil e cinco. Olho os rochedos ao longe e vou até eles, meu cantinho preferido. De repente observo que alguém jogou alguma coisa. Água  e  rocha brincam, uma traz a outra devolve. Interrompo o jogo. Trata-se de uma garrafa, com algo dentro. Curioso, tiro a rolha, leio um pedido de socorro, constato que o bilhete tem a data de hoje, trinta e um de dezembro de dois mil e cinco. Alguém acabou de lança-la ao mar.      

    Olho em volta procurando alguém, subo com dificuldade as pedras afiadas, quero chegar num ponto mais alto.  Do outro lado afasta-se caminhando de cabeça baixa uma moça. Só pode ter sido ela a autora do bilhete. Atravesso as pedras, desço depressa, quero alcança-la. Grito pedindo que pare. Ela vira-se. Tem os olhos inchados de tanto chorar. Mostro o bilhete, pergunto se é seu. Ela confirma. Sem cerimônia me dá um abraço.

   A noite cai rapidamente, e nos dois ali, abraçados em silêncio.

  Já mais calma pergunto o que significa  tudo isso, a garrafa, o bilhete, as lágrimas e ela finalmente fala:

   Sou visitante aqui. Vim estudar, conhecer, familiarizar-me com a cultura. Hoje devo retornar e estou triste. Aqui há beleza, pureza, diversidade, cor, luz, calor frio. A natureza exuberante enternece meus sentidos. Contemplaria por toda eternidade lugar assim. Ninguém pode ajudar-me. O bilhete foi meu grito preso na garganta. Fiz um acordo, não há como descumprir, mesmo porque se ficar amanhã serei cinzas. Fui programada para sobreviver por um ano. Vou embora com mala cheia, mas não se preocupe, não estou referindo ao que pertence a vocês, daqui sou proibida de levar um simples grão de areia. Falo da minha mente , extasiada com a beleza do planeta azul.
   Quando parou a narração, olhei pro céu e vi uma luz aproximando-se. Veio descendo lentamente, de repente não a senti mais em meus braços. Olhei e vi que estava desaparecendo, como que microdissolvendo-se em partículas sugadas pela luz sobre nós. Quando deixou de existir a luz alcançou velocidade e sumiu no horizonte.


   Voltei pra casa, não contei a ninguém o sucedido. Nunca mais olhei pro céu como antes.

A ESCADA DA FELICIDADE - Henrique Schnaider


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A ESCADA DA FELICIDADE
Henrique Schnaider

A escada em mármore tinha um estilo elegante. Alice desceu vagarosamente, degrau por degrau, apoiando-se no corrimão.

Antonio a esperava no sopé da escadaria para o jantar que seria servido em breve.

Os filhos desceram correndo, pulando os degraus de forma perigosa.

O casal ficou angustiado de ver os filhos sem nenhum cuidado, mas finalmente a família se reuniu à mesa.

O pai olha para todos e inicia uma oração acompanhada pela mãe e filhos, de agradecimento pela fartura e todo o bem estar da família.

Durante a refeição a conversa entre os pequenos era contínua, e os pais continham as crianças com muito custo.

Antônio quis saber como estavam indo nos estudos e como andava o comportamento na escola, dirigiu-se a mãe que era quem tinha a responsabilidade de controlar a vida escolar das crianças, A mãe  disse que Ana era uma aluna excelente e muito comportada, mas que Leonardo derrapava um pouco nos estudos e na escola, o menino era um pouco sapeca, mas nada que causasse preocupação.

Terminado o jantar voltaram à escada a qual Antônio apreciava, pois havia mandado construir com caprichos para que se tornasse protagonista do projeto arquitetônico.  

Enquanto ele subia degrau por degrau, observava o brilho do mármore de Carrara que lhe custara uma fortuna, mas que dera um brilho todo especial à casa e sentiu-se orgulhoso por ter sido ele a planeja-la.

 A família reuniu-se na sala de estar que ficava  no mezanino, e lá ficou por várias horas, Antônio lendo um livro de história geral, e soltava gostosamente, longas baforadas com  cachimbo, Alice assistia, como de costume,  a novela preferida e as crianças corriam pela sala brincando sem parar.


O casal estava em paz e feliz, deu-se conta da vida agradável que levavam e sentiram-se abençoados por Deus, realizados na vida e finalmente foram dormir tranquilos para a jornada do dia seguinte.

Uma única chance - Ana Catarina SantAnna Maues


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Uma única chance
Ana Catarina SantAnna Maues

   Madrugada fria. A neblina tomava conta do humilde e precário aeroporto que atendia determinada região da Colômbia, rica em diamantes. Saulo era empresário de sucesso e vinha reiteradamente realizar gordos negócios com os exploradores das jazidas.

   Não havia hotel, pousada, sequer algum lugar digno para hospedar-se por isso acostumou-se a rotina de esperar amanhecer, sentado, no desconfortável banco do saguão de embarque. Excepcionalmente naquele momento não tinha vivalma no hall. Estava só e exausto, as pálpebras fecharam, mas a cabeça sem apoio, pesava no pescoço e cambava pra frente pra trás, insistindo em despertá-lo. Foi num desses instantes que percebeu alguém diante dele. Uma figura singular, não identificava se homem ou mulher. Apertou os olhos para melhor ver. Era uma imagem tridimensional que lhe oferecia um objeto. Ele estendeu as mãos e recebeu uma espécie de garrafa, completa até o gargalo com areia colorida. O ícone iniciou uma comunicação telepática dizendo:

   Gire o objeto em sentido horário, primeiro dez vezes e pare, depois quinze e pare, por fim na terceira vez gire vinte. Palavras se formaram com os grãos coloridos. Identifique as três mensagens. Disse isto e sumiu.

   Saulo estava confuso. Pensava com os botões, não foi sonho, pesadelo, estou realmente segurando uma pequena garrafa.

   Medo também não teve. Era um homem frio, arrogante, autossuficiente, detentor de, podemos assim dizer, de uma certa ... maldade.

   Incrédulo iniciou a série de giros, e surpreendentemente os grãos começaram a desenhar palavras. Depressa procurou papel, caneta na valise de viagem.

   Conforme as palavras surgiam ele guardava, sem errar nenhuma vez a contagem. Terminada esta etapa ali estavam elas, de maneira solta, como um jogo de quebra cabeça, precisando serem arrumadas e assim montar a mensagem.

   Demorou um pouco,  mas decifrou tudo. Uma carta surgiu. Fazia um convite.
    "Fomos separados contra vontade, mas trazemos um ao outro na alma e coração".     "Foi-nos permitido uma volta ao início, se atravessar o portal".                         "Na plenitude do amor encontraremos a felicidade".

   Com o final da leitura, Saulo explodiu num choro compulsivo. Derreteu-se a armadura da frieza revelando o alto grau de solidão. Quebraram-se as correntes da arrogância exibindo a profunda necessidade de amor. Desmanchou-se a autossuficiência que camuflava a debilidade para sobreviver. Lembrou-se do acidente na estrada, do carro destruído, dos corpos no asfalto.

   Quando parou de soluçar e secou as lágrimas que escorriam, viu formado a poucos metros um círculo brilhante. Sabia que era o portal da mensagem. Deveria decidir ou pela vida que levava, de empresário, viagens, namoradas, bens e imóveis variados ou pela aventura de confiar no que lhe foi revelado. Decidiu por dar chance  ao amor. Tinha consciência do quanto  sua personalidade foi afetada com o sucedido no passado e desejava resgatar o que devia ter vivido, esperava ser o que não era.


   Inicia-se a caminhada pelo portal. A cada passo, dentro do que comparou  a um túnel, ele regridia um ano em sua idade cronológica, com essa redução a vivência que teve também ia desaparecendo. Ele fez uma viagem ao contrário, descendo dos trinta e três anos até a idade de sete. Esperando por abraço, estavam seu pai e sua mãe. Ele corre para encontra-los.

Um dia talvez- Ana Catarina SantAnna Maues


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Conto com 12 palavras

Viagem tantas vezes adiada
Florença, tão romântica Florença
Ela ria um riso largo
Olhar sereno
Falava pouco
Foi ha tanto tempo
Dias inesquecíveis
Lembro-me bem
Taça de champanhe
Beijo silencioso
Era um dia frio aquele
Nunca mais


Um dia talvez
Ana Catarina SantAnna Maues

   Sonho mais que perfeito conhecer a Itália, VIAGEM TANTAS VEZES ADIADA. Bilhetes de embarque na mão, lá fui eu. Meu destino era FLORENÇA, TÂO ROMÂNTICA FLORENÇA. Passaria  os quinze dias nela, em outra oportunidade Veneza, Roma e tantas outras. Desde menino despertava meu interesse. Devorava livros, revistas e tudo que dissesse respeito a ela. Lugar envolvente, berço dos Médicis, muralhas medievais, ruelas, museus, igrejas guardiãs do sono eterno dos ilustres, estes sim celebridades, Galileu, Leonardo da Vinci, Maquiavel e tantos outros. Não esperava palpitar o coração por alguma nativa, mas se acontecesse por que não?

   Fiquei num hotel próximo ao Arno de águas limpas, porém cheio de grandes pedras no leito.

   Fui aguardar no hall o guia particular que contratei. De minuto em minuto olhava pro relógio, estava atrasado não tem coisa que me irrite mais  vou fumar um cigarro deixei o celular no quarto será que ligou tenho que ir buscar mas se ele chegar neste instante vou rápido.

   Retornei esbaforido com o celular acusando nenhuma ligação. Cheguei até a calçada, a impaciência cutucava. Nesta hora vi aproximando-se, ELA RIA UM RISO LARGO, chamou meu nome, minha guia era gorda, mal vestida, exibindo fios de bigode. Confesso que percorrer lugares sedutores em tal companhia não ajudava a fantasia, mas seu OLHAR SERENO cativou-me. Eu sabia tudo sobre Florença por isso ela FALAVA POUCO.

   Com o passar dos dias fui modificando meu olhar, não notava mais os fios de bigode, a companhia era leve, divertida, dávamos boas risadas. Retornei ao Brasil cheio de saudade, não de Florença, mas dela.

   Hoje relembro olhando as fotos FOI HÁ TANTO TEMPO sem dúvida DIAS INESQUECÍVEIS. LEMBRO-ME BEM, ao embarcar seus olhos encheram  d'água, mas no jantar de despedida brindamos em TAÇA DE CHAMPAGNHE de excelente qualidade. Não houve carícias no aeroporto, apenas um BEIJO SILENCIOSO, de olhos nos olhos, e isso aqueceu-nos, pois ERA UM DIA FRIO AQUELE.

   Nunca mais voltei a Itália, outras prioridades invadiram minha vida, quem sabe um dia e de novo Florença, com esperança de mesma guia.




O CRIME DA ESCADA - Henrique Schnaider


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O CRIME DA ESCADA
Henrique Schnaider

Maria estava desolada, sentada no sofá da casa, policiais por todos os lados, revistavam tudo, para tentar elucidar aquele crime bárbaro que havia acontecido há poucas horas.

Ricardo seu marido, fora encontrado por ela estendido naquela escada em decúbito dorsal, morto por muitas facadas.

O casal possuía uma situação financeira muito boa e frequentavam a alta roda da sociedade.

Tudo ia muito bem até que Maria descobriu que o marido tinha uma amante, e a partir deste momento as brigas do casal tornaram-se frequentes. Todos os amigos já estavam sabendo que em algum momento haveria o desenlace daquela situação infeliz.

Os policiais desconfiaram que Maria houvesse cometido o crime, já que não estavam vivendo bem e ela tinha todos os motivos que levam uma pessoa ensandecida a cometer crimes bárbaros.

Os policiais interrogavam a esposa, para ver se em algum momento ela cairia em contradição, mas Maria negava a pratica do crime com convicção com a segurança de que não havia cometido aquele crime, inclusive a fizeram passar pelo detector de mentiras e não surgia nada que a condenasse.

Os peritos da investigação examinaram com mais atenção os detalhes na escada, local do crime, finalmente encontraram fios de cabelo tanto nas mãos fechadas de Ricardo que evidentemente lutara com seu algoz para evitar a morte e acabaram por achar o mesmo tipo de fio de cabelo que foram levados para testes, nos degraus da escada.

Daí as suspeitas facilmente, caíram em cima da amante Carla, que não teria nenhum álibi para justificar a sua presença na casa,  no interrogatório, acabou confessando o crime, alegando que Ricardo ameaçava abandona-la.

Maria teria que começar sua vida novamente, mas livre. Mudou-se da casa com sua escada fatídica que nunca mais gostaria de ver, onde o crime aconteceu e como a escada, teria que começar tudo de novo degrau por degrau.


Quem era ela? - Hirtis Lazarin

  Quem era ela? Hirtis Lazarin     A rua já estava quase deserta. Já se ouvia o cri-cri-lar dos grilos. A lua iluminava só um tantin...