A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

FIGURAS DE LINGUAGEM

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

FERRAMENTAS LITERÁRIAS

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Plenitude - Hirtis Lazarin


Imagem relacionada


Plenitude
Hirtis Lazarin
(Texto elaborado coletivamente)

              Juventude... Quanta saudade!  A vida é bela, os planos e sonhos são muitos e o futuro não nos amedronta.

          Sara conheceu André no primeiro ano da faculdade de direito.  Um olhar mais demorado, uma atração incontrolável, amor à primeira vista.  Almas gêmeas.   Quando conheci o casal, passei a acreditar em almas gêmeas.

          Ambos advogados, juntaram conhecimento e competência.  Surgiu um escritório de advocacia que logo, logo tornou-se referência no meio empresarial.

           Foi um pulo só até que conseguissem desfrutar de uma vida tranquila, a casa dos sonhos, viagens, dois filhos e tudo o que o dinheiro pode proporcionar.

          O tempo voou.  Os filhos cresceram, criaram asas e partiram pra outro país.  E André, homem saudável, sofreu um enfarte fulminante e fatal com menos de sessenta anos.

          A casa ficou vazia.  Os amigos, os namorados, as músicas tocadas bem alto, o burburinho, tudo desapareceu.  Até as brigas faziam falta.

          Sara, agora, trabalhava só meio período.  Nos horários vagos fazia cursos.  E foi num desses cursos que ela encontrou razão pra viver sem André e longe dos filhos.

          Dispensou o jardineiro e passou a cuidar do imenso jardim que rodeava a casa.  Era tanto carinho e delicadeza que as flores retribuíam com mais beleza, mais formosura e mais perfume.

          Era um domingo de verão.  A temperatura mais alta que de costume.  Sara demorou no banho mais do que devia.  Vestiu um vestido de festa e perfumou-se com o perfume preferido de André.  

          A rede de renda branca, instalada no caramanchão envolto por galhos de primavera vermelho-sangue, convidou-a a repousar.

          O silêncio do entardecer era mágico e colorido pelos pios de pássaros que passeavam por ali.

          Sara adormeceu em paz como uma criança que adormece nos braços da mãe.

          E... nunca mais acordou.  


Um amor eterno! - (Amora)


Resultado de imagem para ila foula


Um amor eterno!
(Amora)

Estamos em 1912, um pouco antes da Primeira Guerra Mundial. É uma história verídica, como tantas acontecidas no passado.

George, um jovem major do  exército inglês, tendo dado baixa em período de paz, mora em Londres, capital da Inglaterra.

Apaixonado por pintura e cavalos, aproveita o tempo de folga para se dedicar ao que gosta.

Fica sabendo por amigos, da existência de uma ilha, Foula, no litoral da Escócia, habitada por inúmeros cavalos pequenos, pôneis, em maior número do que  habitantes. Cerca de 1000 pôneis para cada morador local, que descontando os turistas, não passam de 30 famílias. Animais calmos, inteligentes, obedientes, corredores, datando uns 3000 anos antes de cristo, segundo estudiosos.

Aventureiro e audacioso, decide deixar Londres e ir visitar Foula, essa ilha famosa, parecendo-lhe mais encantada e misteriosa do que verdadeira.

Assim que chega, hospeda-se em simples pousada e sai pelos arredores, dirigindo-se aos campos que ladeiam aquele mar de águas claras e límpidas, de ondas altas que batem nas rochas e produzem um barulho contínuo e forte, semelhante a batidas de pés. Olha ao redor e percebe que cavalos também trotam, às pressas, em bandos, pela areia molhada, como se apostassem corrida.

Eram pequenos, elegantes, de pelos luzidios, crina e rabo volumosos, lindos!  George encanta-se com eles. Resolve pintá-los.

Apronta seu material na manhã seguinte, dia ensolarado embora fosse inverno, e vê se consegue apanhar pelo menos um, para modelo. Não consegue, apesar de muita correria e esforço. Escuta uma risada alta e gostosa vinda de uma cabana ali perto. Vira-se nervoso e vê uma linda moça, olhos azuis e cabelos vermelhos, encaracolados,  sorrindo para ele. Divertia-se com a sua incompetência.

Já mais calmo, dirige-se a ela, apresentando-se como um pintor, desejoso de ter um pônei, coisa rara em Londres, como modelo. A rapariga, mostrando-se amiga, diz chamar-se Mary e se propõe a ajudá-lo. Chama um dos animais pelo nome e ele corre a atendê-la. George espanta-se  com isso, achando que deveria pintá-la, segurando o pônei. O quadro ficaria mais interessante, impressionado também pela beleza da moça.

Todas as manhãs, reunia-se perto da cabana de Mary, pintando-os com todo o entusiasmo e carinho que possuía, colocando na tela a beleza do cavalinho e o amor que já estava sentindo pela delicada e bela Mary, tão diferente das raparigas que conhecia em Londres.

Foula era mesmo uma ilha encantada e paradisíaca, como lhe haviam contado. Resolve terminar o quadro, começar outros, nunca mais deixar aquele lugar. Mary parece corresponder ao seu afeto e até os pôneis, tão ariscos, sentindo talvez que ele era amigo, aproximam-se dele.

Conhece a família da moça, uma das poucas que ainda restam na região e pede-a em casamento. Estabelecem uma data para a cerimônia e declaram-se noivos desde então.

Mary não cabe em si de contente, feliz ao lado do homem que ama e cercada pelos amigos pôneis,  que nunca  pensou em abandonar.

É chegado o dia do matrimônio e o casal feliz espera permanecer na cabana em que se conheceram. O primeiro quadro pintado por George seria o enfeite principal da sala, lembrando-os dos primeiros momentos de união.

Terminada a cerimônia, ao redor de uma grande mesa, começa animada festa, em que todos os convidados falam ao mesmo tempo. Um deles, o último a chegar, abre muitas vezes a boca, mas não consegue ser ouvido. Insiste muitas vezes, até que finalmente, cansados, param e ele fala bem alto o que queria. “estourou a guerra! Todos os jovens, principalmente do exército, estão convocados”!

Os convidados emudecem. Seus semblantes alegres se modificam. A tristeza e o medo, embora estivessem longe da capital, invade  o casamento tão feliz de Mary e George. O casal retira-se imediatamente, indo Mary chorar em sua cabana, sabendo que George seria logo convocado.

Foi mesmo. Em poucos dias recebeu um comunicado que deveria apresentar-se ao exército e se alistar à luta.

Maldita guerra, pensa Mary. Nem bem casara e já ficava sem marido. A despedida foi bem triste, prometendo George escrever todos os dias e ela esperá-lo até que voltasse.

Passaram-se três anos! As cartas de George foram rareando até que não chegavam mais. Mary nem sabia se estava vivo ou morto. Consolava-se com seus pôneis e passava horas olhando os quadros que George pintara.

As notícias da guerra eram comunicadas e parecia que não iria terminar nunca! Tamanho o estrago que fizera! O povo sofrido, a comida rareando, pessoas fugindo, feridos chegando. Nada sobre George.

Num dia de desespero, já perdendo a esperança, Mary dirige-se à praia que tanto gostavam e, olhando firmemente a água sobre um penhasco, sente-se atraída por aquela imensidão calma e joga-se, num impulso repentino.

Põe fim àquela angústia que tanto a importunava.

Ao longe, um barco com bandeira inglesa aproxima-se. Dentro dele, vários feridos de guerra são deixados naquela região, inclusive George, que, mancando, dirige-se vagarosamente à cabana onde Mary deveria estar. Não a encontra e ninguém sabe dela. Atemorizado, sai também em direção à praia, encontrando seu velho lenço em cima do penhasco. Adivinha o acontecido. Mary não aguentara esperá-lo tanto tempo. Os pôneis amigos, rodeiam quietos aquele lugar. Parecem respeitar a amiga que se fora. George, olhando aquela água sente também o mesmo impulso, atirar-se e juntar-se à amada.

É imediatamente rodeado pelos pôneis inteligentes, que o impedem de realizar o mesmo ato de Mary. Permanece em Foula, solitário na cabana, pintando pôneis para turistas, olhando o quadro que fizera quando chegara, para lembrar de Mary e amenizar sua saudade, até a velhice.



Apuros jornalísticos! - Amora


Resultado de imagem para sagada nas filipinas


Apuros jornalísticos!
Amora


Letícia, uma jovem jornalista, recém-formada, encanta-se com o convite para trabalhar na revista “viaje”, com  novidades turísticas. Faria descrições e relatórios sobre diversos lugares, viajando constantemente.

O primeiro lugar indicado despertou-lhe grande curiosidade. Teria que estudar e conhecer uma cidade pequena, Sagrada, situada perto de Manila, nas Filipinas. Descobrir o porquê de atrair tanto turista e o desagrado do povo com essa invasão.

Logo ao chegar, espanta-se com a quantidade de estrangeiros no local, contrastando com a simplicidade e os costumes tradicionais dos habitantes.

Hotéis superlotados, restaurantes cheios, muita movimentação para um lugar pequeno, bonito, mas de natureza comum.

Fazendo reconhecimento do local, perguntando aqui e ali, descobre a causa de tanto interesse. Os costumes tradicionais daquele povo, seus lugares de manifestações festivas e religiosas, a preservação que insistiam no culto aos antepassados. Eram tão diferentes que atraiam curiosos em conhecê-los.

Sentiam-se incomodados com isso, fazendo várias queixas ao governo, como invasão de lugares que consideravam sagrados. Eram vencidos pela renda turística, comércio, organizações de excursões e tudo que trouxesse mais dinheiro ao país.

Letícia, após alguns dias, resolve participar de um passeio que a levaria ao local de maior atração. Como esses filipinos enterravam seus mortos!

Chegaram a um lugar montanhoso, estranho, ao entardecer. Reparou que não enterravam seus mortos, mas colocavam em caixões que ficavam pendurados e perfilados o mais alto possível, suspensos em fios, para que recebessem maior proteção e ficassem mais perto do céu. Era uma maneira de encaminhar seus ancestrais próximos aos deuses que acreditavam. Lugar sagrado e respeitoso, não digno de visitação a turistas com comentários e fotos.

A moça sentiu-se impressionada e não gostou de ter ido, achando-os muito ignorantes e, nada atrativos, pensando em escrever algo que ajudasse a acabar mesmo com o turismo em sagrada, indo contra a tradição deles, não os defendendo.

Escureceu rápido e ela, amedrontada, sentindo um cheiro estranho que emanava do local, afastou-se do grupo, procurando o ônibus. Enveredou por um caminho desconhecido, e, ao invés de se afastar daqueles caixões pendurados, ficou mais próxima, pensando que fossem galhos.  Tão próxima, que um deles despencou, chocando-se com ela. Apavorada, deu um grito forte e desfaleceu de susto.

Atraídos pelo seu grito, correram todos a socorrê-la, procurando sair o mais rápido dali. O guia, rapaz nativo, supersticioso, compreendeu, à sua maneira, que fora um sinal que os mortos deveriam ser respeitados.

Voltando ao hotel, Letícia permaneceu alguns dias na cidade, recuperando-se da batida que sofrera. Os habitantes olhavam-na diferente. Como se tivesse sido uma escolhida dos deuses  para preservar o lugar.

Mudou seu pensamento sobre o texto que pretendia escrever.

Não mais os criticaria, ajudando-os a preservar seus costumes e tradições com respeito, sem preconceitos e invasões. Compreendeu que cada povo tem seu costume, acredita neles, adquirindo uma força interna, não permitindo distorções.

Voltou à revista e escreveu uma crônica sobre sagada contando tudo o que viu, inclusive defendendo o povo propondo um fechamento ao turismo dos lugares proibidos a estranhos. Terminou dando razão aos habitantes locais.


Sagada passou a ser mais respeitada e conhecida depois disso! Sua crônica foi bem aceita, despertando curiosidade pela situação que sofria e não só pela sua tradição!

Família Rodrigues planeja férias! - (Amora)


Resultado de imagem para gruta parque do ronca

Família Rodrigues planeja férias!
(Amora)

Antonio Rodrigues, sua mulher Fátima e filhos Adriana e Carlinhos, resolvem tirar férias juntos, fazendo viagem longa e diferente.

Gostam de aventuras, lugares estranhos, não pensam muito em descanso, mas em curiosidades.

Após várias consultas a revistas e livros, escolhem um lugar não muito conhecido, o chamado “Parque da Terra do Ronca”, nos limites do Estado de Goiás, próximo à Cidade de São Domingos, só visitado através de guias, devido à periculosidade que oferece.

Os avós, preocupados com segurança, perguntam, “o que têm este lugar de tão interessante para irem tão longe?”

Carlinhos, entusiasmado, responde logo, “cavernas, grutas enormes dentro das montanhas, com quilômetros de comprimento, cheias de cristais de rocha, pingos d´água que, infiltrados, transformaram-se em estalagmites e estalagtites, verdadeiras obras de arte, semelhantes a pérolas e cristais, descendo dos tetos e nos  solos!”.

“estalagmites! Estalagtites!” Que nomes estranhos para um lugar turístico. Será que isso é bom?” Pergunta.

“Claro!”, responde o menino, “São mistérios da natureza escondidos dentro da terra, quase desconhecidos do homem, descobertos por geógrafos e existentes há mais de mil anos.”

Animados, carregando somente utensílios recomendados, cada um com sua câmera, embarcam de Guarulhos até Goiânia, seguindo a São Domingos, de ônibus.

Quando chegam, mal deixam as malas no hotel já saem à procura  de um guia que os leve ao passeio.  São vários dias para  percorrer  tudo. Eram muitas cavernas, cada uma com sua particularidade e, bem afastadas da cidade, escondidas dentro de mata cerrada.

Conhecem Miguel, o guia contratado, bastante simpático e experiente na  região.

Saem cedo, no dia seguinte, fazendo longa caminhada até avistarem a primeira delas.

Ao entrar, com cuidado, para não escorregar no solo meio úmido, ficam impressionados com a luminosidade e beleza do lugar!  Raios de sol penetram através das rochas, colorindo-as e fazendo-as brilhar como se fossem ouro. A água da chuva, caindo aos poucos, endurece formando fios de gelo e terra, semelhantes a colares de pérolas! Pérolas e ouro dentro de montanhas! Realmente, lugar incrível. As máquinas fotográficas não param de funcionar.

Conforme vão, os lugares ficam escuros, sem luz, mais perigosos, avisando Miguel que deveriam segui-lo através de uma lanterna!  Ilumina também paredes, mostrando o belo trabalho feito pela natureza, não revelando traços de animal ou existência de  homem pré-histórico no local.

Adriana, tão encantada quanto os outros, ouve um barulho estranho, vindo não sabe direito de onde! Parece  algum animal ou homem velho! Um estranho ronco alto! Pergunta a Miguel e ele, sorrindo, responde ”É um ronco mesmo! Essas cavernas são separadas entre si pela ramificação das  águas de um rio, o Rio da Lapa, que, ao percorrê-las, faz um barulho semelhante a um ronco. Daí o nome delas, Parque da Terra do Ronco!”

E, assim, vão conhecendo as cavernas desse parque tão maravilhoso e desconhecido, a não ser pelos próprios moradores ou apaixonados por grutas e cavernas! Tanta coisa existe nesse mundo que  desconhecemos!

Quando voltam, repletos de fotos e novidades, afirmam contentes, “nossas melhores férias”!


Em nosso país, tão pouco divulgado em belezas naturais!

UMA ESCRITORA EMOCIONADA! - AMORA


Resultado de imagem para mulher chorando na praia


UMA ESCRITORA EMOCIONADA!
AMORA

Letícia, uma jovem escritora, adora o litoral! O amanhecer e o entardecer, o brilho do sol refletido nas águas, tudo a encanta! Sente assim sua inspiração.

Seus vizinhos, acostumados a vê-la escrever, nesses horários, nas areias da praia, olham-na curiosos para ler o que lhe vai na alma, o resultado desse trabalho.

Quando se cansa, senta-se sobre as rochas e, olhando ao longe, começa a sonhar, sonhar e meditar, buscando inspiração.

As águas do mar, o barulho das ondas nas pedras,  vestidas de espumas brancas que bailam a favor do vento, a lua aparecendo no céu, estrelas que brilham anunciando o anoitecer, causam-lhe estranha emoção que só escritores e poetas sentem.

É o belo da natureza atingindo corações humanos e provocando reações.

Lágrimas escorrem sobre o rosto de Letícia, brotando-lhe dos olhos, límpidas como gotas de orvalho caindo nas pétalas de delicada rosa!

Sua emoção é tão grande que não consegue pensar em mais nada, só olhar a bela paisagem. Deixa o caderno de lado.


Sente-se pequena ao escrever, diante de tal grandiosidade!

AS LÁGRIMAS DE AURÉLIA! - (AMORA)

Resultado de imagem para mulher chorando na praia

AS LÁGRIMAS DE AURÉLIA!
(AMORA)

Aurélia, sentada na areia, espera seu pescador que voltava, à tardinha, todos os dias.

Avista, ao longe, vários barcos voltando, menos o dele.

Aflita, corre a recebê-los e ouve, tristemente, a notícia de que seu barco naufragara, abatido por ondas gigantes.  

Lágrimas escorrem dos seus olhos, incontroláveis, principalmente quando vê os colegas de profissão chegando,  barqueiros recebidos calorosamente por suas mulheres e, ela, só.

Senta-se à beira de um penhasco, nas rochas, pensativa, olhando aquelas águas escuras, pelo entardecer.  Atraída por elas,  dá-lhe vontade de se atirar e morrer. Quem sabe o encontraria, amenizando sua dor.

É interrompida por um menino que, sozinho, brinca por ali, Luizinho. Ao lado dele, um caderno e um lápis revelam que havia feito, na praia, sua lição de casa.

Olhando-a, Luizinho, sem notar sua tristeza, pede que lhe escreva uma história.

Aurélia, espantada, fitando-o como se fosse um anjo, talvez, enviado por deus, começa a escrever sua história de amor com Caetano, o pescador! Coloca como título, “ o grande amor de Aurélia e Caetano”. E assim, desabafa no papel toda angústia que lhe vai na alma!

Quem era ela? - Hirtis Lazarin

  Quem era ela? Hirtis Lazarin     A rua já estava quase deserta. Já se ouvia o cri-cri-lar dos grilos. A lua iluminava só um tantin...