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quinta-feira, 25 de maio de 2017

Qual o bem maior? - Ana Catarina SantAnna Maues

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Qual o bem maior?
Ana Catarina SantAnna Maues

       Helena fazia mestrado em  Antropologia. Quando  debruçava-se nas pesquisas não  percebia as horas passarem.  Já muito havia lido sobre estranhas civilizações com hábitos curiosos, mas a leitura que agora fazia da comunidade  Kuruguá,  chamou-lhe  atenção,  devido eles considerarem a fertilidade como bem maior,  valorizando-a de forma  rígida. Antigos nômades que eram, caminhavam procurando  terras para coleta, caça, pesca,  e a proliferação dos membros da comunidade.  Quando encontravam uma bela planície fixavam-se, aspirando que fossem férteis. As mulheres tinham como única função a reprodução, e assim como a terra, caso  não produzissem, eram exterminadas. Elas necessariamente tinham que mostrar seu rebento dentro de um ano após o acasalamento com os machos reprodutores.  Mulheres e terra deveriam ser fartas. O ritual de aniquilamento,  era semelhante, realizado minutos antes da comunidade partir em busca de um novo lugar para fixarem-se.  Eles reuniam-se  e jogavam em toda aquela terra uma substância avermelhada, a mesma que as mulheres inférteis deveriam  beber, estando amarradas ao tronco de uma árvore sem fruto. Depois de alguns instantes, iniciava um calor abrasador por todo o local umedecido com o tal líquido, e tudo começava a queimar. Da terra incandescente apareciam labaredas. Os corpos das mulheres  iniciavam a queima  de dentro para fora, seus gritos podiam ser ouvidos a distancia.  Mulheres e terra ardiam e consumiam-se num fogo reparador, assim pensavam.


Homens, mulheres e as crianças, deixavam o local sem olhar para trás. Quando encontravam água banhavam-se, julgando estarem libertando-se de toda infertilidade do antigo lugar.  Bem longe dali iriam por certo encontrar outra planície para assentar.

O furação - Henrique Schnaider

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O furação
Henrique Schnaider

Era o final das férias de Ana, benefício pelo qual lutara tanto nos últimos anos, mas que pelo excesso de trabalho, tantas vezes fora adiado.

Ainda lhe restariam alguns dias diante daquela beleza natural. De um lado a mata virgem provendo o espaço de ar puro e muitos pássaros, de outro, o mar que lhe oferecia oportunidade de manter os pés na areia, e aquele horizonte sem fim onde se encontram céu e mar.

A antiga casa dos pais, nessa praia quase deserta com grande extensão de orla para caminhar pelas manhãs, tem sido seu refúgio sempre que consegue folga.

A jovem Ana estava sozinha na praia quando soube que se aproximava um furacão.

Ana sentiu certo pavor e por alguns momentos manteve-se estática, sem reação. Depois, os pensamentos já se embolavam na mente e a situação já era de verdadeiro desespero  e aflição...

Ana lembrava-se de quantas vezes, esteve naquela casa, junto com seus pais e irmãos, desde os seus cinco anos de idade, ela passava suas férias de verão e ainda tão jovem, conheceu Paulo, amigo de seu irmão e com o passar do tempo acabaram se apaixonando e namorando.

Como são todos os jovens, pouco precavidos, Ana acabou engravidando, mas ambas as famílias foram compreensivas e curtiram muito a gravidez e finalmente nasceu Aníbal, criança linda, que deu muita alegria a todos.

Os jovens Ana e Álvaro casaram-se e acabaram formando uma família linda.

Ela acabou se formando engenheira,  e Álvaro formou-se em Medicina. Ambos  alcançaram sucesso  nas profissões e conseguiram ficar bem financeiramente .

Na segunda gravidez foi uma felicidade geral e ela conseguiu uma licença maior, e foi curtir a sua maternidade na velha casa de pais na praia, o marido descia para encontra-la nos finais de semana.

Passados alguns dias o noticiário da televisão comunicou  que se aproximava um furacão naquela região. Subitamente, houve queda de energia e o sinal telefônico foi a zero, interrompendo todas as possibilidades de comunicação. A jovem engenheira passou rapidamente os olhos pelas colunas da velha construção,  tentava avaliar se a sua casa antiga resistiria à fúria dos elementos.

Lembrou-se do porão, lugar de esconderijo das crianças nas férias. Resolveu se esconder lá, pois lhe parecia mais seguro naquele momento E lá naquele subsolo escuro e abafado manteve-se trêmula aguardando a passagem da tempestade.

A hora não passava.  Tateava na escuridão a estrutura, e a casa muito bem construída, resistia bravamente.  Os pensamentos iam e vinham os dois filhos, o casamento tão bem afinado, a carreira de engenharia tão desafiadora, a infância que agora brotava no breu do porão com irmãos e primos se escondendo ou brincando com as ferramentas e redes do pai. Muitos planos ainda por realizar, e outros tantos que lhe brotavam.


Lá fora os ruídos iam aos poucos reduzindo. Sentiu que o tremor da construção estancou. Finalmente o furacão, transformou-se em apenas uma tempestade tropical. Ela subiu vagarosamente a pequena escada de madeira e viu-se no quintal arrasado  pela ventania. A pequena jaqueira resistiu firme guardando seus segredos de menina. Ela sorriu aliviada. Tratou de correr ao telefone e conseguiu comunicar-se com o marido. Naquele momento sentiu  que ainda teria um futuro brilhante pela frente.

Vida de Rei - Henrique Schnaider

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Vida de Rei
Henrique Schnaider

Desde filhotinho o leão Hercules aprendera que a vida era dura para ele, e através dos ensinamentos da  leoa Dinda, sua mãe aprendera a sobreviver juntamente com seus três irmãos .

Ele aprendeu a localizar, perseguir e finalmente abater  a presa. Mas, já na fase adulta ele teria que seguir seu caminho sozinho,  e exatamente foi o que fez, procurando uma fêmea para também formar um novo bando. Em sua procura persistente, finalmente encontrou uma bela leoa, Antígona e depois de muita insistência a leoa cedeu aos seus encantos e deu sequência à natureza e formando um novo bando com quatro filhotes do qual era o garboso chefe alfa.

Mas, esta posição na hierarquia  do seu grupo, exigia muitos esforços de sua parte, para defender seu território de possíveis rivais que constantemente o desafiavam, tentando tomar sua posição de chefe alfa.

Havia uma procura incessante por alimentos, obrigando-o a caçar de forma intensa. Hercules estava desesperado de fome e procurava algo para suprir seu bando. Andava no meio da selva africana quando finalmente abateu um gnu, só que o que ele mais temia aconteceu, e um bando enorme de hienas aproximou-se, famosas por sua ferocidade e apetite,  acabaram entrando numa luta feroz com o felino em uma disputa sobre a carcaça abatida do animal.

Finalmente Hercules, inferiorizado e levando nítida desvantagem, na luta quando já pressentia sua eminente derrota, resolve por instinto de sobrevivência, se afastar e bate em retirada, o garboso leão abandona o gnu abatido e resolve se embrenhar na mata para recomeçar a eterna procura de alimento para a sua família.


Conforme andava percebeu próximo, a sua fêmea e seus filhotes que o seguiam e neste momento sentiu sua responsabilidade, pois todas aquelas vidas dependiam da sua grande capacidade de conseguir alimento para que sobrevivessem.


O ego de rei da selva se elevou dentro dele, o peito inflou, e o instinto caçador se evidenciou em Hercules. Logo teriam com o que se alimentar.

A sogra - Ana Catarina SantAnna Maues


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A sogra
Ana Catarina SantAnna Maues

       Eles queriam casar, mas precisavam de uma ajudinha. A sogra de Laura dizia sempre que podiam contar com ela, mas a ajuda financeira não vinha nunca, e os preparativos não tinham início,  até que desistiram de esperar e com economia própria casaram.

      Na humilde casa alugada podia não ter nada, mas o clima de amor, companheirismo e união entre o casal era visível, o que despertava ódio mortal na mãe de Fábio, que arquitetou um plano para causar discórdia entre eles.  Passou a  ir todas as tardes, ter um dedinho de prosa com a nora. Nas visitas, as duas conversavam, tomavam chá, assistiam  tv, mas ela sempre  ia embora antes do filho chegar do trabalho.   Quando o marido chegava,  Laura dizia:

— Sua mãe esteve aqui!

E ele estranhava por não tê-lo esperado. Com o tempo, este  fato  o incomodou, e ele foi ter com a mãe, indagar sobre a conduta, que ela aproveitou e inventou diversas mentiras a respeito da nora,  dizendo que  visitava para demonstrar amizade, mas ela a deixava sozinha na sala; que as vezes chegava e  sabia que  estava em casa, mas não lhe abria a porta; noutras ela até entrava, mas a nora logo a enxotava dizendo estar ocupada. Ele acreditou na mãe e indignado, chegando em casa brigou com a esposa, que perplexa chorou muito, sofrendo sem entender porque que  havia inventado coisas tão terríveis. Laura foi criada em orfanato, por isto transferiu para a sogra o amor filial que guardava. Em profundo abatimento calou-se. Não abriu a boca em defesa própria. Em sua confusão mental  estaria agredindo a mãe biológica que não conheceu.

      No dia seguinte, a sogra foi à casa deles no horário de costume, e  mal a porta abriu, falou rispidamente:

— Você não vai roubar meu filho!

      Laura tímida, com autoimagem fragilizada, estava confusa diante daquela pessoa tão significativa, que de uma hora pra outra  mostrava-se  perversa, dissimulada,  e pior, com poder de fazê-la perder o único bem de toda sua vida, Fábio.

     — Se quer continuar casada, disse a sogra,  vai ter que fazer tudo o que eu mandar. Amanhã cedo você vai à minha casa, assim que meu filho sair pro trabalho,  limpa-la, depois cozinhar, lavar e passar minhas roupas, só depois vem cuidar da sua, se der tempo! E caiu na gargalhada.

          E assim passou a ser a rotina de Laura. À duras penas dava conta das duas casas, sem nada revelar ao marido. Essa situação a deixava exausta. Nos domingos não tinha  ânimo para nada, o marido reclamava de sua apatia, mas a amava tanto que logo arrependia-se de ter reclamado. Ela respondia com silêncio. E o domingo passava insípido e sem graça.


         Os dias  passavam e nada mudava. Laura cada vez mais fraca, muito pálida e abatida, começou a emagrecer e acabou doente. Até que um dia caiu na rua e foi hospitalizada. O  médico chamou os familiares e avisou  que ela estava no último estágio de leucemia. Fábio ficou louco com a notícia. Inconsolado abraçava a mãe no hospital e pedia que rezasse por Laura,  pois se morresse, ele também morreria. Infelizmente nada mais podia ser feito, Laura depois de alguns dias  morre e com a notícia, em ato desesperado, Fábio se suicida.

Quando o amor nos move - Henrique Schnaider


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Quando o amor nos move
Henrique Schnaider

John era um rapaz tranquilo que viveu a infância e adolescência nos subúrbios de Londres.

Tinha  todos os sonhos de um jovem de classe media londrino indo morar no centro da cidade.  Durante seus estudos,  como gostasse muito de jogar futebol, e por sinal jogasse muito bem, resolveu fazer uns testes no Clube mais famoso da cidade, o Manchester United.

O técnico viu naquele jovem brilhante, um futuro promissor e o convidou para fazer parte do time.

John teve uma carreira meteórica e em pouco tempo, era muito festejado pela torcida. Já era muito famoso quando conheceu Elaine. Tiveram um romance tórrido e decidiram morar juntos.

Tudo ia muito bem entre os dois, porém devido a sua fama, era muito assediado e acabou não resistindo aos encantos de Alice, mulher linda, dotada de um corpo escultural.

John levou por um tempo aquela situação dupla, até que um dia Elaine descobriu no celular a traição de John e terminou tudo com ele.

Ele a amava muito. E de repente lhe veio o sentimento de perda, e reconheceu que não foi inteligente de sua parte o envolvimento carnal com Alice. Estava arrependido,  doía-lhe a separação. Naquele dia saiu de casa sem rumo, sem nenhuma esperança de que Elaine reatasse com ele. Tudo agora parecia um nada, e John que tinha o corpo atlético e musculoso, agora parecia franzino e arqueado,  tinha a cabeça baixa e caminhava visivelmente perturbado.

O desespero levou-o ao Tâmisa, e depois à ponte. O fim daquela união parecia marcar também o seu próprio fim. E, parado ali na ponte, olhando para as águas que passavam afoitas, atirou-se na tentativa de morrer.

No momento em que tocou nas águas, para sua sorte, passava uma lancha no local, que o recolheu e o salvou.

O atleta famoso arrependeu-se do gesto tresloucado e voltou para a casa de Elaine dizendo-se arrependido e pedindo para voltar, implorando pelo seu perdão e ela muito emocionada, resolveu perdoa-lo e depois de um longo beijo, resolveram voltar a viver juntos.


Formaram uma família bonita, tiveram três filhos e John teve uma longa carreira. Hoje é técnico do time famoso,  onde dois de seus filhos já treinam nos times de base e têm tudo também para uma bela carreira no futebol.

Dupla personalidade - Henrique Schnaider


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Dupla personalidade
Henrique Schnaider

Antônio era um ator famoso de novelas e estudava seus personagens de forma profunda, assumindo-os de tal maneira, que isso começou a influenciar sua personalidade.

Ele era casado com Lilian e tinham cinco filhos lindos, mas vivia uma vida de sonhos.

Nesta ultima novela seu personagem Álvaro era um homem dominador, poderoso, que se apaixona por Bianca, representada pela atriz famosa Alice dos Santos, com muitos anos de carreira.

No enredo, Álvaro levou muito tempo para conquistar Bianca, filha de um rico fazendeiro, que fora criada como um bibelô por seus pais e acabou se tornando muito mimada e geniosa, e acaba não resistindo aos encantos de Álvaro que acabou por pedir a mão de Bianca em casamento, que aceitaram imediatamente. O namoro foi de vento em popa.

Fora do enredo, Antônio começou a sentir-se atraído por Alice, que por sua vez correspondeu ao interesse dele, e as cenas românticas da novela começaram a ficar quentes.

O caso começou a ficar sério, colocando em crise os respectivos casamentos. Com o correr dos dias, começaram os desentendimentos cada vez maiores entre Antônio e Alice.

Depois de muitas brigas o casal caiu na realidade e percebeu que na verdade quem estava apaixonado era Álvaro por Bianca e, respectivamente, ela por ele. Perceberam que  ambos os atores haviam assumido os personagens da novela em que eram os protagonistas trazendo-os para realidade, provocando toda aquela situação perigosa quase destruindo seus casamentos.

Voltaram às gravações, agora muito mais comedidos e levaram seus papeis numa boa, sem mais nenhuma confusão.

Finda a novela, ambos resolveram dar um tempo com as representações  e procuraram cada um o seu analista para ajudá-los com a confusão de sentimentos que as novelas provocavam neles.

Quanto aos seus casamentos, se solidificaram e melhoraram seus relacionamentos aparando as arestas, voltando a vida normal de felizes casais no melhor momento de suas vidas.


Quem era ela? - Hirtis Lazarin

  Quem era ela? Hirtis Lazarin     A rua já estava quase deserta. Já se ouvia o cri-cri-lar dos grilos. A lua iluminava só um tantin...