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quinta-feira, 9 de março de 2017

Pequena Ilha de coral - Christianne Vieira

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Pequena Ilha de coral
Christianne Vieira


Nogueira se acomodou confortavelmente na cadeira. A sua frente, um monitor cheio de imagens. Estava mergulhado nessa pesquisa há vários meses e, quando parecia ter encontrado um caminho, percebia um erro e retornava ao início. Como era possível existir uma Ilha Fantasma?

Sendo um renomado Oceanógrafo, não podia admitir. Por meses  utilizara informações privilegiadas da Agência Espacial Internacional. Seu chefe o pressionava por respostas, já desperdiçara muito tempo, verba e longas noites de insônia.

Resolveu então checar as mensagens no correio eletrônico, o que seria uma boa forma de relaxar e, para a sua surpresa, havia um e-mail que logo lhe chamou a atenção: “Lenda da Ilha Fantasma”.

Mesmo pensando que estaria desperdiçando seu tempo, abriu a mensagem.  Logo na primeira parte, sua curiosidade foi se aguçando, e, intuitivamente, acreditava ter encontrado uma nova fonte de pesquisa.

Um morador de Vannuatu, chamado Branch, lhe contou que conhecia uma lenda   da ilha fantasma.

Um corsário muito cruel, de nome Creek, havia enterrado um baú cheio de Coroas de ouro, que ele havia saqueado de uma embarcação  holandesa, durante as expedições marítimas .Ele tivera ajuda de uma moradora local, conhecida como feiticeira, e após o enterrarem, lançara uma maldição sobre a ilha.

A ilha ficaria submersa em boa parte do tempo e, só os aborígenes que bem conheciam a região seriam capazes  de encontra-la. Um mapa em pergaminho, muito antigo, desaparecido há muitos anos, continha as as coordenadas de onde este baú teria sido enterrado.

Branch se colocava à disposição e esperava encontrá-lo em breve.

Ao acordar no dia seguinte, tratou logo de esquematizar um pedido de verba, mas sabia que correria o risco de ser negada. A agência estava enxugando os gastos, o ano estava com o orçamento comprometido.

Leu diversas vezes seu projeto e se encaminhou para a sala de seu chefe.
Ao término da leitura, fez  perguntas sobre o tempo que essa aventura poderia levar e, as razões para tantos investimentos.

Nogueira explicou tudo detalhadamente e ficou na torcida aguardando respostas. Pela sua experiência, sabia que demoraria até uma semana para ser analisada pelo comitê.

Enquanto aguardava, foi estabelecendo um contato mais estreito com Branch que lhe enviava mensagens com perguntas pesquisando todo e qualquer fato que se relacionasse a Grande Barreira de Corais.  Descobriu fatos interessantes sobre o Mar de Coral, e as batalhas travadas  durante a segunda guerra mundial. Sempre se interessou pelo assunto, pois lembrava de sua visita ao porta aviões Midway na baia de San Diego acompanhado de seu pai. Essa era uma das razões de ter escolhido  sua profissão: o fascínio que o mar lhe causava.

Branch, muito solícito, lhe enviara fotos e recortes de jornais locais para contribuir com a pesquisa.

Tinha interesse ainda  maior sobre a curandeira e a sua possível feitiçaria. Um pesquisador nunca poderia acreditar em tais sandices. Mas, para o povo local esse comportamento era muito normal.

Nessas ilhas tão isoladas do mundo globalizado, a  cultura e o folclore eram seguidos por gerações.

Após sete dias, de muita angústia, chegou a confirmação, e já poderia voar para a aventura.

Foram dois dias e muitas escalas até conseguir pousar em Brisbane na Austrália. Dalí partiria para Nova Caledônia.

Branch o aguardaria em Vannuatu. Ao chegar à ilha se dirigiu ao escritório, que tinha uma atmosfera rústica e acolhedora, bem típico dessa região. A porta em madeira de construção, envelhecida, nas paredes várias fotos de barcos de pesca e mergulho. O seu negócio era o mais importante da ilha.

Tudo estava claro,  Branch  também tinha interesses nessas lendas, o mistério o ajudaria a vender seus passeios.

Conversaram durante algumas horas sobre o tema, Nogueira levou uma pasta contendo informações sobre as ilhas.

Cansado da maratona da viagem, foi dormir cedo. Acordou revigorado e, como haviam combinado, foi ao escritório de Branch.

Partiram para as ilhas, todas de uma beleza inigualável, pediu que parassem na ilha mais próxima da considerada  fantasma.

Primeira parada: Willis Islets, em busca de pistas ou relatos sobre as lendas ou de informações à respeito.  Das ilhas do arquipélago, somente nesta havia uma base meteorológicas, as outras desabitadas. Ouviu tantas estórias diferentes, que sua mente embaralhava. Seguiram pelas outras pequenas ilhas próximas: Magdelaine Cays, Coringa Islets, Tregrosse Islets e nenhuma nova informação se acrescentou. 

Cansado, retornou a Vannuatu no dia seguinte, pois  voltariam a visitar a Grande Barreira de Corais. Os aborígenes residentes destas ilhas são muito envolvidos com suas crenças e a comunicação com eles é dificultada devido a tantos dialetos. Conheceu Venalu, um homem de aproximadamente 80 anos, quase todos dedicados à pesca.

Ele fazia parte de uma cooperativa e todos viviam no mar e de atividades ligadas a ele.

Era um líder local  e seus conhecimentos tinham muito valor. Para eles, aborígenes, não há diferença entre o mundo espiritual e físico.  Existem almas ou espíritos, não só em seres humanos, mas também em animais, plantas, rochas, características geográficas, entidades do meio natural, como o trovão, o vento ou as sombras.

Parecia que uma cortina se abria diante seus olhos, pois a partir disto poderia encontrar alguma resposta.

Esse povo indígena, cheio de superstições, carregava as crenças, durante toda a sua vida.

Nogueira perguntou a Branch como poderia se encontrar com esse pajé?
Os homens das aldeias caçavam animais e pescavam. A  arte era a forma  de comunicação, e seus instrumentos de trabalho, cheio de pinturas e inscrições, contavam as histórias do povo e a relação com as divindades.
A mãe serpente era representada pelo yidaki, um instrumento cujo som era puro encantamento.

Venalu recebeu Nogueira e não se surpreendeu com as perguntas feitas, todas pertinentes ao sumiço, ou da existência da Ilha Fantasma.

Ele disse que uma curandeira, de outro clã,  fora rendida por piratas e fizera um acordo, para ser  libertada, deveria ajudar Creek a esconder seu mapa com as indicações de um baú enterrado repleto de coroas de ouro.

Ela o fizera a contragosto e, se utilizara de um ritual muito poderoso dos seus antepassados. A ilha  ficaria submersa  nove luas e depois permaneceria com sua maré baixa durante uma semana. Ao entrar a décima segunda lua, voltaria a ficar submersa novamente. Esse ritual deveria ser cíclico, até  o dia que, um novo pajé, o quebrasse. Tinha que ser do mesmo clã, e possuir mesmos dons de vidência.

Desde esse fato, todos os seus descendentes nasceram mulheres e, não apresentavam  capacidades de vidência.

A ilha fora visualizada e catalogada na décima primeira lua, por uma foto de satélite e, essa seria a razão de ser catalogada, depois ter desaparecido.

Nogueira se sentia ao mesmo tempo confuso e decepcionado. O que faria a partir de então?!

Suas pesquisas e seu tempo foram desperdiçados. Um cientista não poderia crer em rituais ou bruxaria.  Iria esclarecer seus superiores, abandonar a pesquisa e enterrar de uma vez, todos os meses que buscara em vão pela Ilha. Branch se encontrava da mesma forma, antes via esse mistério como uma boa fonte de renda.

Enviou seu relatório, fez as malas, mas agora levava consigo um novo mundo, rico em cultura e crenças, o qual nunca imaginou acreditar.


Coisas da vida - Hirtis Lazarin


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Coisas da vida
Hirtis Lazarin

          EU só tinha quinze anos...

          Cheguei ao mundo em meio a uma grande festa.  Mamãe já tinha perdido a esperança de ter o segundo filho.  Dez anos me separam do meu irmão Leonardo.

          Confesso.  Fui privilegiada pelos deuses.  Uma família completa, repleta de amor.

          Cresci respirando livros e telas pintadas.

          Meu pai era um pouco dos livros que leu e muito dos textos que escreveu.  Culto e sistemático.  Não dispensava terno, gravata e sapatos de croco.

          Herdou dos meus avôs a mais completa livraria da nossa cidade.  Tornou-se um mecenas literário.  Todo ano realizava dois concursos.  Um júri escolhia o melhor texto, papai editava e lançava no mercado.  Oportunidade de ouro aos novos talentos.

          Mamãe, artista plástica.  Simples e linda numa calça jeans desbotada e camiseta.  Generosa e sensível.  Sentia além dos sentidos, enxergava além do horizonte, voava além de suas asas   Era o equilíbrio entre a sofisticação e a simplicidade.

          Conjugava o verbo pintar tão bem quanto outros, até incompatíveis: limpar, passar roupa, organizar.

          Administrava nossa casa de um jeito só dela.  Sabia onde estava guardada aquela tesourinha que foi da vovó, sabia que o estoque de arroz estava no fim, que na camisa de linho branca do papai faltava um botão, que a torneira da pia pingava sem parar, e assim vai...

          Se percebesse uma nuvem negra e pesada ameaçando a paz da família, colocava na vitrola de estimação o "long play" das valsas vienenses, laçava o seu homem até a sala espaçosa e ali rodopiavam até cansar.

          Mamãe tinha seu ateliê no imenso quintal de casa, projetado entre flores e árvores frutíferas.  O vento cobria o chão com pétalas e frutos maduros.  Um paraíso às borboletas e passarinhos.  Um silêncio perfumado, fresco, transgredido  só pelo canto dos bem-te-vis.

          Com facilidade e muita arte, reproduzia em telas sutilezas da alma feminina.  Não se importava se a modelo era magra ou gorda, alta ou baixa, bonita ou feia.  Você olhava pra tela e aquele rosto, aqueles olhos já lhe contavam se era tristeza ou esperança, frustração ou felicidade, solidão ou sabedoria o que sentiam.

          As coisas lá em casa começaram a mudar...E de uma hora pra outra já não tínhamos mais um lar.

          E eu só tinha quinze anos...

          Já havia dias que o ateliê estava fechado.  Mamãe acordava cada dia mais tarde e papai saía cada dia mais cedo.

          Aos poucos foi rareando o nosso café da manhã cheio de bom dia, de pãezinhos quentes saídos do forno, de sorrisos, de língua queimada com o leite quente além da conta, dos conselhos, da conversa fiada.  Até o dia em que cada um fazia tudo do seu jeito.

          Que saudade daquela mesa cheia de nós.

          Eu e o Leonardo não sabíamos porque estava acontecendo aquilo.  Nunca vi os dois discutindo nem brigando.  Nenhuma ofensa. Nenhuma frase em tom mais alto.  Apenas poucas palavras.  Tentei conversar com a mamãe várias vezes.  Não deu.

          Lembro-me bem como se fosse agora.  Acordei disposta e abri a cortina.  Lá fora o sol já estava bem aceso.  Vi mamãe com o esguicho na mão,  parada junto às rosas príncipe negro, preciosidade do seu jardim.  São rosas com pétalas aveludadas num tom vinho tinto seco.

          Espreitei-a por um bom tempo.  A calça jeans, agora desengonçada, escondia um corpo franzino.  Ela não saía do lugar.  A terra já não mais absorvia tanta água.  Transbordou,  invadiu o corredor de piso frio, ultrapassou a calçada e escorria junto ao meio fio.  As roseiras, hastes frágeis,  curvaram-se lentamente até desfalecer sobre a terra encharcada.

          Ouvi o ranger da porta se abrindo.  Papai apareceu impecável como sempre.  Carregava duas malas.  Passou pelas costas de mamãe, fingiu não vê-la e esquivou-se da água empossada.  Saiu a passos largos e rápidos, sem olhar pra trás.

          Naquele momento entendi a letra da música de John Lennon:  "A vida é fácil de olhos fechados".


          E eu só tinha quinze anos...

LEMBRO-ME AINDA! - Dinah ribeiro de Amorim


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LEMBRO-ME AINDA!
Dinah ribeiro de Amorim

É como se fosse hoje. Não consigo apagar da memória. Lembro-me ainda daquela casa, do jardim maravilhoso, de tantas brincadeiras engraçadas! Eu, meus irmãos, nosso cachorro, dias claros de sol. Papai e mamãe juntos!

Tinha apenas cinco anos e não entendia muito bem as coisas. Meus irmãos eram mais velhos e pareciam muito tristes. Mamãe, chorosa, cabeça baixa, mas convicção e objetividade no olhar.

Papai, avistei pela fresta da janela, proibida de sair ao jardim, naquele dia. Não era castigo. Algo muito sério estava acontecendo. Vi-o abrindo o portão, carregando uma simples maleta, olhando lentamente para a janela do meu quarto, beijando meus irmãos e saindo em direção ao carro. Ele e mamãe não se falaram nem se despediram com um beijo, como faziam sempre.

Não sei por que, alguma intuição infantil, talvez, senti que não mais o veria. Iria embora para sempre.

Realmente, nunca mais o vi, nem soube dele. Minha tristeza foi tão grande que, não sei explicar como: as rosas vermelhas do meu jardim murcharam, parecendo gotas de sangue que caiam ao chão. As outras flores também se fecharam, como se estivéssemos num rigoroso inverno, o inverno do meu coração.

Não brinquei mais! Minhas idas ao jardim, tão felizes antes, limitaram-se a idas e vindas ao portão, saídas para a escola e, ainda ansiosa, esperar sua volta.

Meu pai! Nunca soube realmente o que aconteceu. Suas brigas com mamãe, seu choro às escondidas, suas desculpas às minhas interrogações. Até hoje o espero! Já adulta, com filhos e netos. Nem sabe a falta que fez!

Suas brincadeiras comigo, suas histórias engraçadas, nossas corridas pelo jardim, minha ajuda ao plantio de algumas flores. Sentia-me sua predileta. Única filha mulher entre quatro irmãos. Queixavam-se, às vezes, dizendo que eu, quando entrava, parecia um sol em sua vida. Talvez fosse mesmo.

Mamãe faleceu cedo, após dura vida de trabalho para nosso sustento.  Devemos a ela o que somos hoje! Mas, meu pai, quando o lembro, uma saudade triste, uma dor aguda no peito, uma sensação de vazio, ainda me invade.


Nunca mais admirei jardins. Quando viajo, visito vários lugares, observo tudo e escuto amigos dizendo: “Nossa, que jardim lindo!” “Que flores maravilhosas!” Passo rápido, procurando outros caminhos, outras histórias, interesso-me por gente!

“BEIJO, O FEITIÇO BÍBLICO” - Ricardo Augusto Pinho

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“BEIJO, O FEITIÇO BÍBLICO”
Ricardo Augusto Pinho



Beijos, eram para Sigismundo, a chave para o sucesso, tanto podia dar quanto surrupiar de um inocente ”Energia vital”, através dele (Beijo).

Será que aquele ato tão comum entre todos os seres humanos poderia ser tão sagazmente usado como arma?

Digo arma porque existem beijos de Amor, de paixão, de perdão e daí por diante, mas usar desse artifício para fins vampirescos era realmente uma arma letal!

Contudo, a jovem Senhora já passando de sua época áurea, quando não mais era cortejada como antes ... havendo sim se tornado um artifício para conseguir uma ou outra presa a sua fome de viver uma juventude ida e quase acabada.

Quando ainda jovem, lendo muitos livros de MAGIA, descobriu que, como no Antigo Egito, usava-se o BEIJO em rituais mágicos, para envolver pessoas num labirinto interminável, no qual a vítima seria para sempre prisioneira.

Esse era o segredo de nossa personagem que jamais mediu esforços para conseguir seus intentos

Poderia ter amado alguém?

Se isso aconteceu, não foi reconhecido como coisa boa nem ruim, , para ela todos eram vítimas nesse colar de abomináveis conquistas energéticas.

Sua velhice não seria nada tranquila, sem elegância e muito menos honrosa.

Já feia e enrugada não conseguiria ninguém para mais um beijo, já que não se olhava mais no espelho com medo da realidade que iria encontrar vendo seu horrível eu interior.


O QUE É VELHICE PARA ALGUNS! - Amora


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O QUE É VELHICE PARA ALGUNS!
Amora

Há alguns anos, antes da segunda guerra mundial, vivia no Japão, cidade sagrada de Kioto, uma família conhecida por sua saúde, bondade e longevidade. Seus membros mais idosos, faleciam com mais de cento e vinte anos.

Um deles, chamado Namura, tornou-se um médico notável por seus tratamentos e descobertas. Trabalhava num hospital aos pés do monte Fuji, recebendo inúmeros doentes terminais que se curavam em suas mãos. A técnica, de pouca medicação, era baseada na alimentação e em produtos naturais. Esse talvez fosse o segredo dessa família viver tanto e, bem de saúde.

Namura, aos cinquenta anos, já era um conceituado professor de Universidade, operador e escritor, revelando sucessivas conquistas.

Amado pelos jovens de sua época, sobrevivente de guerra e algumas catástrofes acontecidas no Japão, continuava aos cem anos com a aparência e disposição que tinha aos cinqüenta. Chamou a atenção de muitas pessoas que se interrogavam qual seria o segredo de tanta jovialidade. Parecia que tinha descoberto a fonte da juventude.

Um dia, entrevistado por um repórter, acabou revelando seu dia  simples e contínuo. Trabalhava sem parar, levantava-se cedo, dando aulas, escrevendo, orientando pacientes no hospital. Não deixava pensamentos ruins tomarem conta de sua mente. Alimentava-se muito pouco, comendo somente o necessário; um copo de suco de laranja de manhã, com uma colher de azeite de oliva, para facilitar a circulação sanguínea. Ao almoço, um pouco de leite de cabra ou uma fruta da estação, deixando para o jantar uma refeição leve à base de arroz e peixe. Procurava sempre manter o peso ideal à sua estatura, caminhando à pé em sua rotina  diária.

Conversava muito com seus alunos mais jovens, procurando se manter atualizado, não falando muito do passado, comentando o presente e sonhando sempre com um futuro promissor.

Era constantemente questionado sobre o sucesso no tratamento de seus doentes, principalmente os portadores de câncer, aos quais dedicava cuidados especiais. Respondia através da alimentação. Certos tipos de alimentos alimentam as células cancerígenas, mesmo com tratamentos químicos e radioterápicos, que estacionam o Câncer, mas não curam, fazendo-o  voltar, porque o organismo enfraquece.  É necessário matar de fome as células cancerígenas, alimentando as boas e nutritivas ao fortalecimento do corpo. Seu estudo e livros publicados tiveram grande repercussão entre equipes médicas, sendo convidado até hoje, quase aos cento e cinqüenta anos, a fazer palestras para médicos jovens e universitários.


Quem diria que não encontrou na vida o elixir da mocidade, transmitindo aos mais jovens seus conhecimentos e experiências, até esta idade. Um ser destinado a destaque entre os viventes.

Feitiços da Loba - Jany Patricio

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Feitiços da Loba       
Jany Patricio

Morgana foi convidada por uma amiga para participar de um grupo de mulheres que se reuniam uma vez por mês para ler e comentar os livros. Em cada encontro uma oferecia sua casa e as outras levavam sucos, pães, tortas, bolos salgados e doces e outras guloseimas. Lobas era o nome do grupo.

Foi marcado um dia para confraternização de final de ano onde cada pessoa demonstraria ou levaria algo que sabe fazer. Havia atriz, pintora, astróloga, poetisa, reikiana, numeróloga, cabalista, uma advogada que fazia mandalas com pedras, uma bancária que dançava flamenco. Sendo enfermeira e sem tempo para hobbies, Morgana ficou matutando enquanto as amigas diziam suas habilidades.

Meu Deus, o que vou dizer? Não sei fazer nada além de cuidar dos pacientes e da minha família.

— Morgana e você o que vai trazer? – Perguntou Helena, a organizadora do evento.

Saída de seus pensamentos num susto falou a primeira palavra que veio à cabeça.

— Feitiços. – Lembrando-se de um livro que sua mãe idosa deixava na cabeceira, onde estava escrito na capa: Feitiços.

Todas arregalaram os olhos!

Ela, sentindo-se poderosa fitou cada uma e disse levantando o queixo: — Eu sou uma feiticeira!

— Você nunca me disse que era feiticeira! – Exclamou Dorotildes, sua amiga.

        — Era um segredo. – Respondeu.

        Correu para a casa da mãe encontrou dormindo em sono profundo. Procurou aflita o livro no quarto. Encontrou na gaveta do criado mudo. Nas páginas amareladas receitas de emplasto e chás para dores de cabeça, estomacais, gripes, enjoos, inflamações, insônia, depressão, calos, diarreia, nefrite, verrugas, micoses, ressaca, e muito mais.

        A mãe deu uma espreguiçada e ao abrir os olhos viu a filha com o livro nas mãos.

        Morgana correu para junto dela e disse:

— Mãe, posso tirar cópia deste livro?

        Falando e bocejando ao mesmo tempo disse:

        - Filha, é com as receitas destes livros que tratei meus filhos, meu marido, parentes, netos, e amigos durante a vida. Agora ele é seu. Faça o que quiser com ele.

        A enfermeira abriu um sorriso, abraçou e beijou dona Manuela.

        Chegou o dia da reunião das Lobas.

        Na sua vez de se apresentar, Morgana tirou solene de uma caixa enfeitada com laços dourados um livro. Mostrou a capa para as amigas onde estava escrito “Feitiços”.


        — Aqui estão os feitiços de uma vida.

A história de Mariluce - Dinah Ribeiro de Amorim




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A história de Mariluce.
Dinah Ribeiro de Amorim

Mariluce era uma mulher gananciosa e arrogante, vivia esbanjando a pequena herança deixada pelos pais. De festas em festas, lojas e lojas, namoros escandalosos, sua futilidade era tanta que chegava a ser desprezível, aos olhos de algumas famílias conservadoras.

Tratava seus empregados com severidade, estupidez, considerando-os inferiores e medíocres. Não se importava com problemas alheios, com dores ou tristezas quando as ouvia, interessando-se somente por pessoas ricas, de cargos importantes, que lhe trouxessem alguma vantagem.

Como pessoas assim, existem muitas no mundo, sentia-se rodeada de amigos e interesseiros, como ela.

Citada em rodas festivas, comemorações, exposições importantes e em cada assunto frívolo e inútil, lá estava ela, muito bem acompanhada.

Mulher bonita atraía olhares cobiçosos, embora transmitisse uma certa frieza. Cativava inicialmente muita gente, vivia intensamente vários romances, não durando muito esses relacionamentos. Trocava-os com muita facilidade. Não se prendia a ninguém.

Demonstrava a todos uma felicidade que, intimamente, não sentia. Algo faltava para preencher esse coração vazio e amargo. Só não sabia o que.

Os anos foram passando, a maturidade chegando, o dinheiro acabando, a velhice aparecendo.

A saúde, começando a dar sinais de preocupações, desgastada por excessos, levou-a ao médico.

Aconselhada a uma vida mais calma e saudável, procurar lugares sossegados e algum trabalho voluntário, porém negou-se a seguir  tais conselhos, continuando na mesma de sempre.

“médicos, bolas, só falam besteiras!”

Como seu gênio não mudou, ao contrário, só piorou com os problemas da idade, os amigos desapareceram, a solidão chegou, os empregados saíram à procura de melhor  emprego,  ela ficou só.

Sozinha na casa que restou, sem alguém para  servi-la nos momentos difíceis e  socorrer quando necessitasse.

Começou então a pensar na vida passada e no que fizera.

Olhava pela vidraça a casa em frente, vizinhos que mal cumprimentava, porque eram simples e pobres, reparando agora, com inveja, em como eram mais felizes. Alegres, cheios de filhos e netos, festejando, brincando, entrando e saindo. A mais velha, que deveria ser a avó da turma, tomando sol na varanda, em cadeira de balanço ou com um crochezinho nas mãos, parecia estar bem e feliz. Sempre rodeada por trepadeiras e as lindas rosas do seu jardim. Transmitia paz, sossego, prosperidade.

Uma vez, viera até sua porta, trazendo-lhe um bolo, manifestando amizade. Negara-se a abri-la, considerando-a humilde e mal vestida demais, para ser sua amiga. Como se arrependia agora! Amaria provar aquele bolo e conhecê-la, nos tempos atuais. Não sabia cozinhar nada e nem pensava em comer fora. O dinheiro mal dava para suas despesas. Fez investimentos errados, aconselhada por falsos amigos e, perdeu quase tudo, restando-lhe pouco para sobreviver. 

Uma casa velha, um jardim abandonado, mato crescendo, sem flores, no lugar das lindas begônias, plantadas por sua mãe. Haviam murchado junto com ela.
A vida muda de repente e Mariluce nunca se preparou para nada.  Restou-lhe vender a casa e ir para um asilo.


Arrependida, pensou, pela primeira vez, na existência de Deus.

“SEGREDO PARA SEMPRE” - AMOR SECRETO – Ricardo Augusto


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“SEGREDO PARA SEMPRE”
- AMOR SECRETO –
Ricardo Augusto


Mariela sempre muito recatada parecia uma caixa de segredos, circunspecta e introvertida, quase não falava nada com ninguém.

Mal sabíamos nós que ela guardava segredos incríveis desde a mais tenra idade.

Filha única de pais abastados sempre teve tudo aquilo que uma pessoa possa querer ter na vida,  mas nada disso a fazia parecer feliz.

Talvez a sorte não comungue com gente desse tipo, nem abra as portas da felicidade para quem não reparte com os outros algo de bom na vida.

Todos sabiam que ela tinha algo que se revelado, faria um escândalo na família, no bairro ou na cidade onde morava.

À noite, depois das vinte e quatro horas, ela sorrateiramente ia até o sótão da imensa mansão em que moravam e desembrulhava um espelho de cristal que pertenceu a sua bisavó, tida pela família como maga.

Olhando-se no cristal via-se como uma princesa de rara beleza refletindo certa dose de tristeza pelo amor perdido na juventude.

Jurou jamais revelar o acontecido em nome do amor eterno que guardaria em segredo

O amor verdadeiro é aquele que se torna eterno mesmo que não tenha se materializado.




Cores escondidas - Jany Patricio


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Cores escondidas
 Jany Patricio

Difícil encontrar o armário vazio do abraço.

As paredes assistem perplexas as noites de insônia.

As cortinas não esvoaçavam e os pratos silenciam.

                Dor dilacerante que rompe o casulo.

                O abrir das asas da borboleta.

O voo e as cores escondidas e esquecidas.

                Encontro e libertação!

                Salto para uma vida nova, plena!

                Descobrindo horizontes,

                Rompendo barreiras,

                Alçando voos mais altos,

                E respeitando os limites do infinito!


                Simples assim!

UMA CERTA MARIA! (- AMORA)


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UMA CERTA  MARIA!
(AMORA)

Nasceu Maria, como tantas Marias do lugarejo em que vivia: Maria dos Anjos, das Dores, de Jesus, ela, Maria Santina.

Quando menina, aprendeu tarefas domésticas, carregar baldes d’água na chegada dos caminhões pipas, carpir terra junto ao pai e colher espigas de milho, quando a seca não estragava tudo.

 Moravam pelo sertão da Paraíba, onde a pobreza, a falta de saúde, a fome, modifica o pensamento das pessoas, fazendo-as praticar loucuras.

Desse tempo, Maria só lembra com prazer, de uma pequena sala que servia de escola à criançada, alguns colegas e, da moça de fora que lhes ensinava as primeiras letras. Eram momentos de alegria quando lia e escrevia.

À medida que cresceu, sob o olhar ambicioso do pai, sua vida se transformou.

Nem mulher ainda, mal completado treze anos, resolve levá-la para o litoral, conhecer o mar, desejo local tão sonhado. Maria despede-se da mãe chorosa e irmãos menores, sem compreender o seu choro.

Lá chegando, o pai leva-a a passear pelos bares da praia, percebendo gringos que a olhavam cobiçosos. Resolve fazer negócio, vender a própria filha para um deles, morador do Rio de Janeiro, garantindo algum dinheiro e o sustento dos filhos menores. A colheita fora perdida pela grande seca abatida na região. Entrega-a ao homem estranho, satisfeito, não sem antes usá-la, garantindo a mercadoria.

Maria, chocada, sem saber o que ainda aconteceria de pior à sua vida, segura a mão do pai e o obedece mecanicamente.

O gringo, de nome Artur, trata-a bem, com carinho, dando-lhe comida e modificando seu vestuário. Só não entendia direito quando a procurava, várias vezes, durante a noite. Acabou cedo sua inocência, transformação precoce em mulher.

Passado um tempo, Artur resolve voltar ao Rio. Leva-a com ele. Muda repentinamente de gênio, revelando-se cafetão de prostitutas mal pagas e mal tratadas, fazendo Maria juntar-se a elas. Não consegue aprender o ofício. Cada vez que volta à pensão que moram, sem grana, como ele dizia, leva uns bofetões e é jogada num canto. Maria chora muito, não sabendo o que fazer da vida. Pensa em acabar com tudo, tentando suicídio. Ideia que persiste.

Numa dessas noites, caminhando pelo calçadão, junto às outras, desvia-se delas e planeja atirar-se à frente do primeiro carro que passa. Não compreende o por quê? Vem-lhe à mente a professorinha que teve e as primeiras letras que aprendeu. Começa uma chuva leve e repara nas gotas douradas que se formam banhadas pelos últimos raios solares do entardecer. Ao longe, uma música suave e estranha a atrai, como se a chamasse para mais perto. Sente-se hipnotizada e a segue, reparando que vem de uma igreja.

Envergonhada de suas roupas justas e curtas, molhadas de chuva, penetra nesse ambiente de paz e ouve atentamente a voz que pronuncia, lendo um grande livro: “Quando se pensa que Deus está mais longe, é quando está mais perto!”


Emocionada, desiste da ideia de suicídio, voltando à igreja várias vezes. Abandona Artur, fugindo longe daquele lugar e termina doméstica numa casa de família. Consegue completar seus estudos, à noite, dedicando-se à literatura, de preferência. E, assim, como poucas Marias, iguais a ela, transforma-se numa escritora, começando por sua autobiografia, que é o início de todo grande escritor! O sucesso é rápido quando narra a venda de filhas no sertão pobre do Brasil.

AS MENINAS DA CASA VERDE! - Dinah Ribeiro de Amorim

  AS MENINAS DA CASA VERDE! Dinah Ribeiro de Amorim   José Arouche de Toledo Rendon foi uma das principais figuras do início do impéri...