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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

JAIME E SEU LIVRO MISTERIOSO - Christianne Vieira

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JAIME E SEU LIVRO MISTERIOSO
Christianne Vieira

Semana começando, muitas tarefas à frente, subo os degraus com pressa.  Abro a porta com força. Sempre esqueço que a cada dia meu braço não responde, à vontade de minha mente fervilhante. Minha mãe está na cozinha me aguardando para o almoço...  Ela está gritando, parece estar em uma multidão ao pronunciar meu nome:

— Jaime, venha aqui, tenho um embrulho que chegou para você!!!

Assim que chego na cozinha me arrastando, ela me entrega o pacote:
— O que significa isso?

— Não sei. Quem deixou isso?  Será que foi o Antônio?! No mínimo mais é uma brincadeira de mau gosto como todas que ele faz comigo...

Rasgo então o embrulho, de papel pardo  amassado, repleto de selos. Muito estranho!! Eu nem sei quando recebi alguma carta. Acho que nunca!! Qual menino da minha idade recebe?!

 — Mãe, quem entregou?! Foi o Antônio?

 — Filho, não sei nada, apenas recebi do Sr. Lourival assim que cheguei apressada do supermercado, sei tanto quanto você!!

— Mas, mãe, tem selos grudados nele. Selos de algum lugar tão longe, que nem sei ler o remetente!

Termino de estraçalhar o embrulho e encontro um livro azul marinho, com a capa bem surrada, muito velha, cheia de mapas, desenhos... Escrito sei lá o que. Muito, muito bizarro... E não tenho nem como inventar uma história sobre ele, ninguém acreditaria…é melhor eu me preparar, castigo à vista... Sem futebol, videogame...Tô ferrado!

Tenho um mistério importante a resolver.... Um garoto de 14 anos, um livro bizarro, cheio de marcações, entregue por algum maluco.... Abro com cuidado e avalio minhas possibilidades.

Contra-capa, selo estranho, post-it azul. Enunciado em uma língua desenhada, não entendo nada... Segunda página, post-it vermelho, mais um desenho... Escala com um montão de linhas... Maluquice total. Será que isso é de um terrorista? O Artur me contou uma história sobre um lance desses outro dia. E as letras sublinhadas? Tantas que me perco.

O Google! Resolvo então recorrer ao Google sobre livros esquecidos, de línguas mortas... Encontro vários artigos, mas nada parecido... Vou ligar para o Artur.

— Oi, e aí, cara?! Você não sabe o que me aconteceu? Deixaram um livro muito velho e cheio de marcações, selos, em uma língua muito louca... Vem para cá correndo, você tem que me ajudar.

— Vou pedir para a minha mãe, espere aí.

Em menos de meia hora o Artur, já estava sentado na cama, ao meu lado, tentando saber o que significava tanta loucura.

— Alguém viu a pessoa que deixou o pacote?! Quis saber.

— O Sr. Lourival, foi quem recebeu.

Descemos aos trambolhões pela escada, atrás de uma pista...A primeira, de várias que nos aguardavam.

— Boa tarde. Sr. Lourival, minha mãe me entregou um pacote e disse que o Sr. o recebeu. Será que o Sr. lembra de como era o cara?!

 — Sim, Jaime, me lembro que era quase na hora do almoço, e um motoqueiro de roupa toda preta até o capacete, veio em minha direção e me entregou o pacote, disse que estava escrito o nome do destinatário, quando me virei ele já havia ido embora. Aí deixei com a sua mãe que estava chegando com as compras.

— Valeu Sr. Lourival, mas ainda não sei nada sobre esse pacote. Se o cara aparecer de novo o Sr. pode me avisar?! Deve ser um engano.

Voltamos para o meu quarto, abrimos o livro em busca de respostas...O Artur, ao folhar as páginas, me disse.

— Jaime, e se esse livro for de um bandido ou de uma facção criminosa? Podemos estar correndo perigo, temos que nos livrar dele.

— Você está louco, mano?! E se esse cara volta para buscar?! Aí estarei morto! Melhor eu fugir do país.

— Estamos sem escolha, temos que encontrar o dono. Por enquanto, temos um enigma pela frente, olha só essa marca aqui! Parece um desenho em japonês, olha só... A outra página, está ao contrário, parece que escreveram de trás para frente.

— O que você acha que devemos fazer?

— Já sei, vamos levar esse livro até o Seu Diego, o jornaleiro, ele sabe muitas línguas. Um dia minha mãe se atrasou para me buscar na escola, e eu fiquei conversando com ele.

Fomos então até a banca, que ficava a duas quadras de casa, numa esquina bem tranquila, com o livro misterioso bem escondido dentro da mochila, afinal, tanto mistério, poderia significar que corríamos perigo.

— Oi, Seu Diego, será que o sr.  poderia nos ajudar. Deixaram um livro na minha casa, aos meus cuidados, e eu nem sei o que está escrito. Só que é numa língua estranha e cheio de marcações nas páginas.

— Me deixe olhar. - disse o homem.

 Ele desembrulhou o pacote e foi folhando devagar. A cada página virada, aguardávamos, ansiosos pelo fim do mistério... Ele manuseava com cuidado, afim de não perder os post-its ou demarcar as páginas. Foi então que ele franziu a testa,  sempre tão plácido, agora, mostrando preocupação.

— Meninos, esse livro deve pertencer a um grupo de estudo de Cabala, esta escrito em hebraico, na verdade, eu não sei ler nessa língua, mas conheço um rabino, que sempre compra revistas aqui, ele deve ajudar... Esses desenhos me parecem ser aramaico, que é uma língua morta muito antiga, e parece ser sobre textos religiosos. Mas, você tem certeza de que esse Jaime é você? Seu nome é muito comum na comunidade israelita, de repente o entregador errou de endereço.

— Será? Mas se isso aconteceu, vou ter que encontrar esse cara!...Me passa o endereço desse seu amigo, vou falar com ele.

Saímos em disparada, em busca de respostas. Respostas   que já estavam me enlouquecendo.... Chegamos então à tal Sinagoga e procuramos pelo rabino. Era um homem com roupas estranhas, chapéu na cabeça, meio sisudo, mas que escutou nossa história pacientemente. Pediu para ver o livro, folheou, página por página, e assim que terminou, disse.

— Meu filho, esse pacote estava endereçado ao Jaime Knoblish que estuda conosco no  centro de Cabala. O entregador, se perdeu, e disse que o entregou em um endereço próximo, em um prédio cujo porteiro ficava na frente, mesmo número, mas em uma rua errada. Logo depois disso ele se acidentou, não conseguimos encontrar o paradeiro da encomenda, muito obrigado por ter vindo até aqui me procurar.


Acabamos de resolver esse mistério...

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