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quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Uma única chance - Ana Catarina SantAnna Maues


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Uma única chance
Ana Catarina SantAnna Maues

   Madrugada fria. A neblina tomava conta do humilde e precário aeroporto que atendia determinada região da Colômbia, rica em diamantes. Saulo era empresário de sucesso e vinha reiteradamente realizar gordos negócios com os exploradores das jazidas.

   Não havia hotel, pousada, sequer algum lugar digno para hospedar-se por isso acostumou-se a rotina de esperar amanhecer, sentado, no desconfortável banco do saguão de embarque. Excepcionalmente naquele momento não tinha vivalma no hall. Estava só e exausto, as pálpebras fecharam, mas a cabeça sem apoio, pesava no pescoço e cambava pra frente pra trás, insistindo em despertá-lo. Foi num desses instantes que percebeu alguém diante dele. Uma figura singular, não identificava se homem ou mulher. Apertou os olhos para melhor ver. Era uma imagem tridimensional que lhe oferecia um objeto. Ele estendeu as mãos e recebeu uma espécie de garrafa, completa até o gargalo com areia colorida. O ícone iniciou uma comunicação telepática dizendo:

   Gire o objeto em sentido horário, primeiro dez vezes e pare, depois quinze e pare, por fim na terceira vez gire vinte. Palavras se formaram com os grãos coloridos. Identifique as três mensagens. Disse isto e sumiu.

   Saulo estava confuso. Pensava com os botões, não foi sonho, pesadelo, estou realmente segurando uma pequena garrafa.

   Medo também não teve. Era um homem frio, arrogante, autossuficiente, detentor de, podemos assim dizer, de uma certa ... maldade.

   Incrédulo iniciou a série de giros, e surpreendentemente os grãos começaram a desenhar palavras. Depressa procurou papel, caneta na valise de viagem.

   Conforme as palavras surgiam ele guardava, sem errar nenhuma vez a contagem. Terminada esta etapa ali estavam elas, de maneira solta, como um jogo de quebra cabeça, precisando serem arrumadas e assim montar a mensagem.

   Demorou um pouco,  mas decifrou tudo. Uma carta surgiu. Fazia um convite.
    "Fomos separados contra vontade, mas trazemos um ao outro na alma e coração".     "Foi-nos permitido uma volta ao início, se atravessar o portal".                         "Na plenitude do amor encontraremos a felicidade".

   Com o final da leitura, Saulo explodiu num choro compulsivo. Derreteu-se a armadura da frieza revelando o alto grau de solidão. Quebraram-se as correntes da arrogância exibindo a profunda necessidade de amor. Desmanchou-se a autossuficiência que camuflava a debilidade para sobreviver. Lembrou-se do acidente na estrada, do carro destruído, dos corpos no asfalto.

   Quando parou de soluçar e secou as lágrimas que escorriam, viu formado a poucos metros um círculo brilhante. Sabia que era o portal da mensagem. Deveria decidir ou pela vida que levava, de empresário, viagens, namoradas, bens e imóveis variados ou pela aventura de confiar no que lhe foi revelado. Decidiu por dar chance  ao amor. Tinha consciência do quanto  sua personalidade foi afetada com o sucedido no passado e desejava resgatar o que devia ter vivido, esperava ser o que não era.


   Inicia-se a caminhada pelo portal. A cada passo, dentro do que comparou  a um túnel, ele regridia um ano em sua idade cronológica, com essa redução a vivência que teve também ia desaparecendo. Ele fez uma viagem ao contrário, descendo dos trinta e três anos até a idade de sete. Esperando por abraço, estavam seu pai e sua mãe. Ele corre para encontra-los.

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