A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quinta-feira, 29 de junho de 2017

Mas Que Mundo É Esse? - Rejane Martins


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Mas Que Mundo É Esse?
Rejane Martins

Esta é a história de um garoto de três anos chamado Guilherme, apaixonado pelas histórias que seus pais viveram. Veladamente frisava todos os dias o batente da porta, e em seguida ávido, checava o quanto já crescera. Apesar de pequeno tinha consciência que seria necessário atingir certa maturidade para acompanhá-los nas peripécias. Sonhava com o momento de relatar sozinho as aventuras experienciadas de forma tão inebriante e única, e também de conduzir com tanta intensidade as conversas na roda entre amigos.

A fala da mãe exercia um poder mágico sobre ele, sentia-se hipnotizado com os relatos e o tom de voz ora suave ora excitante. Diariamente prometia a si mesmo ao se levantar que ficaria alerto, não perderia nada, nenhum suspiro sequer. Anotava mentalmente cada palavra e já a ordenava em posição de destaque no rol de prioridades.

Em primeiro lugar da lista, encontravam-se as compras no oceano, ansioso para imergir nas profundezas e finalmente ver as árvores onde cresciam os “Frutos do Mar” tão saborosos e servidos em ocasiões especiais. Mas o que mais intrigava o rapaz é como sua mãe voltava sempre seca para casa, a água do mar não umedecia nem os cabelos nem as roupas.

Estudava cuidadosamente os movimentos dos pais a procura de promoções que acabavam logo, isto porque deviam ser muito gostosas, mamãe dizia que todos queriam “Agarrar com Unhas e Dentes”. Mas a fascinação mor era a viagem feita por seus pais naquele hotel fazenda que “Parece um Paraíso”, lá só trabalham anjos, e o mais legal é que os anjos-monitores ensinavam todos a “Andar nas Nuvens” deve ser um chão tão fofinho, imagine pular de uma nuvem para a outra e ver a terra lá embaixo, bem longe.

Mas há lugares muito perigosos, que quer passar longe. Lembra do estresse causado pelo passeio indicado por um “Amigo da Onça” e também da mamãe. Só que não foi a fera que causou a fúria, mas o fato de tomar um “Banho de Água Fria” assim que chegou lá. A irritação foi tamanha que induziu a fazer algo que o menino jamais a imaginou ser capaz daquilo, ela “Bateu e Voltou” para casa. Coitado de quem apanhou, deve ter doido muito.

Já em casa, ligou para o amigo, agora só do felino, que naquele momento estava trabalhando com um comparsa muito esquisito, ele era o “Advogado do Diabo”. Logo o garoto deduziu que o sujeito não deveria ser tão mal assim, pois o pai tentando acalmá-la disse que com ele tudo “Acaba em Pizza”. Oba, pediria a de mussarela que ele adora.   


Inquieto, durante o jantar, expôs o desejo de acompanhá-los citando as proezas. Por um longo tempo riram copiosamente, tentaram explicar uma coisa chamada “força de expressão” e como interpretá-la. O garoto não entendeu nada, mas mais uma vez esperaria pacientemente agora pela alfabetização, só então saberia onde procurar “O Pé da Letra”.

O SORTUDO - Francisco Lucio Pereira


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O SORTUDO
Francisco Lucio Pereira


Com a humilhação sofrida após ser despedido depois de ter trabalhado muito tempo de sua vida na mesma profissão,  única que sabia fazer, aquele homem mesmo tendo sido proposto pelo empregador que ocupasse executasse outro tipo de tarefa,  não foi possível aceitar.

As exigências estavam fora de seu alcance por não saber ler nem escrever.

Lembrou-se de algo que fazia com prazer e era bem sucedido só lhe faltavam ferramentas adequadas.

A indenização foi tão pouca que mal dava para comprar uma caixa de ferramentas que precisava. Foi à cidade e trouxe-a.    

No dia seguinte um vizinho logo pediu-lhe um martelo dizendo que poderia comprá-lo.

- Não posso é para o meu trabalho, mas acabou vendendo. Logo outros vizinhos fizeram a mesma coisa. Ele começou a pensar Estou ganhando mais vendendo ferramentas que como porteiro do prostíbulo, resolveu comprar mais e revender, a ideia foi boa logo estava com uma loja de ferramentas.

Resolveu ajudar a escola local, tornou-se um dos mais bem quistos daquela cidade.

Um dia o prefeito chama-o para ser homenageado com as Chaves da Cidade.

Após as honras o prefeito pediu-lhe que assinasse o Livro de Homenageados.

- Sinto muito não sei ler nem escrever.


- Não tem problema logo aprenderá e quem sabe um dia será o prefeito da cidade.



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VÉNUS A DEUSA DO AMOR
Francisco Lucio Pereira


Um avião que sempre fazia aquele trajeto, bem revisado antes da viagem, pois levava pessoas de alto escalão, perdeu-se em meio de um denso nevoeiro, surgido de repente, com a mudança do tempo não prevista.

Sem grandes danos pousou, o piloto Gercino, ao contar os passageiros, super assustados, notou a falta de um, o Douglas seu amigo, logo lhe disseram que no tumultuo havia pulado ou caído, não se sabe onde.

Muito se procurou e nada, a polícia avisada, certa altura o responsável disse ao piloto:

— Sabe onde está? Aqui é Nápoles, Itália. Parla italiano? Gercino rapidamente:
— Só quero encontrar o meu amigo Douglas, que por acaso pretende se casar semana a que vem. Disseram-me que por aqui há uma ilha desabitada, segundo consta, tem até Boto cor de rosa nas proximidades.

Dois dias depois a ilha da Gaiola foi localizada, o desespero acabou. De longe Douglas gritou acenando, o navio atracou, o piloto abraçou o amigo chorando de alegria.

— Não chore alegre-se vou apresentar minha noiva, sua irmã Letícia, como ela gosta de aventura após o casamento viremos passar a lua de mel, onde dizem que um poeta Virgílio que com esse nome deve estar vigiando a ilha. Era considerado um Deus com suas lições poéticas, um mágico, e a magia continua, pois Vênus a Deusa do Amor nos protegerá, aqui havia até um templo.


Douglas, abraçou fervorosamente a noiva, de repente vários peixes estranhos passaram e desapareceram.


Quem é o Esperto Agora? - Rejane Martins



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Quem é o Esperto Agora?
Rejane Martins

João era um verdadeiro repelente, era só chegar a um lugar e todos imediatamente se lembravam de uma tarefa inadiável, deixando-o sozinho em um piscar de olhos.

Visivelmente portador de uma ingenuidade extrema que por muitos a identificam como uma deficiência real, suas brincadeiras e comentários eram dignos do bobo da corte, não se encaixavam no contexto do grupo. Logo alguém fazia um comentário jocoso sobre a interação social de João, provocando imediatamente o riso geral, inclusive dele.

Havia recorrentes práticas que tinham a intenção de colocá-lo no ridículo perante o grupo, o ápice se dava quando pediam para João escolher entre uma moeda de R$ 0,50 e outra de R$ 0,25, mas antes enalteciam o tamanho, o brilho da moeda maior. Acreditando piamente que o valor da moeda estava diretamente relacionado ao tamanho, seus olhos brilhavam ao fitar o maior artefato.

Num dia ensolarado, no início do verão, a caminho de um pic-nic precisavam transpor uma pinguela, não muito confiável. Resolveram que um integrante deveria verificar a segurança daquela obra arquitetônica. Fizeram o sorteio com gravetos e Carlos venceu a disputa escolhendo o menor.

Temeroso da incumbência, Carlos propôs uma nova disputa que avaliasse o mais inteligente. Aceita a argumentação apressou-se em escolher João como opositor. Não tardou a separar duas moedas, repetiu todo o ritual e pediu para que ele escolhesse a de maior valor.

João mais do que depressa escolheu a de R$ 0,50 deixando Carlos atônito, de boca aberta. Demorou um longo instante até que ele conseguisse erguer o queixo e pronunciar aos berros sua indignação com o amigão. Justo neste momento resolveu escolher a moeda correta.


No passado João sempre escolhia a maior moeda porque sempre depois da brincadeira recebia-a como troféu. Se percebessem a capacidade de entender a brincadeira, ela acabaria e assim nunca mais seria indenizado pela gozação.    

ESTOU MORANDO EM UM CANIL? - Do Carmo

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ESTOU MORANDO EM UM CANIL?
Do Carmo


Estava eu muito tranquila esperando chegar o elevador, pois hoje é dia de aula do ICAL, quando ouço latidos e sinto um calor queimando minhas pernas, vindo da respiração de dois monstruosos cachorros que desceram desabalados pelas escadas.

Fiquei aterrorizada, sentia-me em um vulcão, não sabia se chorava ou gritava.

Os monstros latiam e em meio do barulho, surge uma voz  ardida dizendo:

— Calma, filhotinhos, isso não lhes fará mal, a mamãe não vai deixar.

Irritei-me, tal qual um mar em ressaca.

A “Madrinha Protetora” parada em minha frente, ria com sarcasmo doce, dizendo:

— A senhora deverá tomar um calmante, tanto escândalo por nada. Os pobrezinhos latiram porque se assustaram ao encontrá-la parada e com uma bengala.


— Que maravilha! - Disse-lhe eu, com voz muito meiga de fel - Desculpe-me,  como fui esquecer que morava em um canil?

A Roupa Fala - Rejane Martins


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A Roupa Fala
Rejane Martins

A eficiência do quarto poder emprestou à mídia informal sua grande força. Atuando de forma quase invisível e usurpadora, influencia e molda o comportamento da sociedade.

Atire a primeira pedra, a mulher que nunca acordou, abriu o guarda-roupa e se viu diante de uma missão quase impossível, o que vestir. Mas para algumas o desafio não só depende do humor, do clima, da pressa ou da disponibilidade de objetos pendurados à sua frente. O censor social o crivo de maior peso, é o julgamento das outras que estipula o que e quando usar determinadas roupas.
Mesmo com a intenção de passar a mensagem “Não estou nem aí para ninguém” quando opta por indumentas básicas, ou ainda escolhe uma malha cinza que transmite um texto desesperançoso, o espaço é vasculhado a procura de uma peça com etiqueta de peso. Afinal, mesmo no descuido o toque deve ser de butique.

É mais burlesco ainda analisar esta mulher no meio social, deseja um bom dia à calça social azul e a camisa branca de botão com o logo do condomínio no bolso à esquerda, que hospeda o corpo do Sr. Juvenal o porteiro. O simples fato de cruzar na rua com um casal de tênis de corrida, fone de ouvido, ele com uma camiseta customizada “No pain, no gain” e ela com uma meia colorida mega colada, a faz automaticamente elevar as mãos e esconder a barrigona. Sem prejulgamento se justifica com o senso comum de que todas pessoas metidas a fitness gostam de aparecer. 
   
No ponto de ônibus chega a tempo de fazer companhia a um senhor de terno escuro carregando um livro de capa de couro preta, com o nariz torcido posta-se ao lado do religioso e inicia mentalmente o cálculo do tempo que está longe da religião. Porém o prazo para determinar o número exato é exíguo, sua a atenção logo foi atraída para aquela jovem mulher apaixonada pelo verão, usando short jeans e blusa soltinha tipo rata-de-praia, caminhando ao lado de um jovem envelhecido pela barba grande e descuidada, vestindo uma camisa xadrez vermelha bem estilo lenhador dos tempos modernos. Ah! Com certeza é ela que canta de galo.

Visão bloqueada com a chegada da condução que já abriga uma típica menina de 17 anos, com mochila, all star e jeans, sonhando acordada em vez de estudar para o Enem, o que esperar do futuro nas mãos destes jovens.

E assim com vários novos amigos que nem a conhecem, muitos iniciam mais um dia de trabalho relaxados após executarem a dinâmica ocupacional do bicho fofoqueiro.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Se eu fosse eu - Hirtis Lazarin


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Se eu fosse eu
Hirtis Lazarin

          Se eu fosse eu,  viraria minha vida de ponta cabeça.

          Andaria de bicicleta "a mais não poder" só pra ter meus cabelos revirados pelo vento, me arrepiar com as gotas de suor  geladas escorrendo nas minhas costas.

          As portas de casa não teriam chaves pra que você entrasse quando bem entendesse.

          As cortinas finas e transparentes das janelas enfeitadas com violetas não esconderiam o olhar curioso e maroto do menino espião.

          Cultivaria um jardim imenso,  me alimentaria de pétalas coloridas e me banharia no perfume das flores.  A lua seria homenageada pelo cricrilar dos grilos e pelo piar das corujas vigilantes.

          Não estancaria minhas lágrimas se elas insistissem em aparecer, seja de tanta alegria, seja de tanta tristeza.

          Não me envergonharia da minha gargalhada escancarada quando só eu achasse graça.

          Meu perdão teria limites e minha compreensão também.

          Deixaria meu mau humor extravasar e, se necessário fosse, meus palavrões também.  Sou humana e não de ferro.


          Bem, se eu fosse eu, eu e somente eu,  seria dona de mim.

Se eu fosse uma bruxa- Hirtis Lazarin


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Se eu fosse uma bruxa
Hirtis Lazarin

          Se eu fosse uma bruxa não teria nariz adunco nem verrugas.  Meus cabelos seriam compridos e soltos ao vento.

          Minhas maçãs não seriam envenenadas.  Seria amiga das princesas, duendes e dragões.  Viveria rodeada de pássaros e jamais permitiria que um urubu agourento se aproximasse de mim.

          Dançaria na relva louvando o luar.

          Curtiria estrelas, árvores e flores.  Minha magia seria sentir a natureza e trazê-la sempre pra bem perto de mim.

           Eu não usaria uma vassoura pra voar.  Deixaria que o vento me levasse pra qualquer direção.

          Seria livre pra acreditar no que eu quisesse,  sem necessidade de obedecer dogmas e imposições.


          Eu seria a "ovelha branca" da família.  E, com certeza, me expulsariam pra bem longe dali.  

Invisibilidade - Ana Catarina SantAnna Maues


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Invisibilidade
Ana Catarina SantAnna Maues

   O fenômeno de se passar despercebido é mais comum do que imaginamos. É coisa corriqueira entre os humanos, todos passam por isto, mais cedo ou mais tarde. Tornar-se oculto é entrar num universo paralelo sem saber como, nem por quê. Abre-se um portal e lá você fica camuflado. De certo que já experimentou este fenômeno. Quantas vezes aconteceu de num salão, o garçom passar com a bandeja de salgadinhos, oferecer a todos em sua volta, passar bem perto, você até estica a mão, mas não alcança e ele se vai, te deixando de olho espichado. No elevador, pessoas entram e não te enxergam. Ocasiões que os amigos numa roda, batem alegre papo, você chega junto e eles nem te olham. Em recepção, o homenageado aparece, está cumprimentando todos com um aperto de mão, você se coloca na fila, está chegando a sua vez, a ansiedade cresce, e bem na sua hora ele muda de direção. Almoço de domingo, família reunida todos atentos cada um contando uma história, quando você inicia a sua, não dão ouvido.


   Há também acontecimentos, em que a invisibilidade é chamada de milagre.  Num assalto em ônibus, o bandido tira os pertences de todos e não os seus. Caminhando numa praia, em dia sem chuva, um raio cai ao lado sem te atingir. Quando se envolve num acidente de carro, de grande proporção, e sai sem um arranhão. Demissão em massa na empresa, e seu nome não está na lista. Estas são ocasiões de agradecer sua invisibilidade, diferente disto não se irrite, você está transparente.

O sonho de Mara! - (Amora)

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O sonho de Mara!
(Amora)

Desde pequena, Mara gostava de ouvir e contar histórias.

Quando entrou na escola, iniciando as primeiras letras, inventava pequenos textos, que, mesmo não bem escritos, para ela, significavam alguma coisa.

Ora um bichinho de estimação, uma boneca maltrapilha, uma casa de fazenda, crianças brincando, sempre imaginando começo, meio e fim.

Com a leitura e escrita, no decorrer dos anos, foi aprimorando seus conteúdos e escrevendo histórias bem elaboradas. Passou logo da fase infantil para juvenil e adulta.

Isso fez com que se tornasse conhecida como boa aluna em literatura, ganhando desde cedo valiosos prêmios.

Incrível e espantosa a facilidade com que escrevia, aceitando qualquer tipo de tema e recebendo muitas ofertas para participar de jornais e revistas.

Suas colunas, muito apreciadas, eram devoradas pelo público, desde frequentadores de bibliotecas, até ambulantes.

Sua habilidade como escritora chegou ao máximo, quando recebeu o maior prêmio dedicado à literatura, o Nobel,  suíço, pela ficção e descrição de uma viagem interplanetária, preocupação de alguns países ricos, no momento. Teve com ele o maior índice de vendagem. Fazia com que o leitor se transportasse para uma nova realidade, sentindo e vivenciando cada passagem lida.

Essa vida de escritora famosa modificou-se de repente.

Um impedimento ocular, transformando-se em doença rara, fez com que interrompesse suas atividades, deslocando-a para lugares de tratamento e tentativas de melhora.

Seu abatimento físico e moral foram grandes. Parar de escrever, a razão de sua vida.

Em tratamento, dedica-se a palestras para estudantes, ensino de elaboração de textos e correções para escritores iniciantes. Adapta-se, pouco a pouco, à nova vida, aceitando as dificuldades impostas pelo destino, recebendo talvez por isso, a mesma consideração e respeito de sempre.


Sua vida se tornou exemplo de força de vontade e capacitação à deficiência sentida.

BRUXA DISSIMULADA - Do Carmo

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BRUXA DISSIMULADA
Do Carmo


Eu nasci estranha. Minha mãe sempre repetia isso.

Mas, convivia muito bem com meus amigos.

Sempre achei que era uma meiguice em pessoa.

Por muitos anos tive que dormir no sótão, minha mãe tinha medo de mim.
Tinha dias que eu sumia de casa e voltava transformada, cheia de ódio.

Pensava que saindo sem rumo, aliviaria a humilhação que minha mãe me fazia passar na frente de meus amigos.

Ledo engano, eles começaram a acreditar que eu era realmente uma bruxa dissimulada.

Um dia provarei que não sou nada disso, em todas as hipóteses.

E vai ser hoje, no aniversário de minha mãe, que vou conseguir mostrar o que queria que todos pensassem.

Em plena festa, na hora da música de parabéns, na frente de todos, abrirei minhas asas e sairei voando 

O SEQUESTRO - Do Carmo


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O SEQUESTRO
Do Carmo



Que susto, nunca pensei que chegaria aqui.

Sequestraram-me em plena avenida, colocaram-me à força dentro de um carro escuro e passaram uma venda em meus olhos.

Que lugar é este! Qual o motivo dessa barbaridade?

Deveria estar com medo, mas não estou, pelo contrário, estou curiosa para ver até onde chegarão.

Encontro-me num salão iluminado, todo colorido, com bela música e odaliscas dançando.

Fico estupefata ao ver na parede um enorme quadro, com moldura dourada, é uma pintura a óleo e nele a imagem de Eli, meu ex namorado.

Ah! Agora entendi, sentiu a minha falta.


Eli apareceu com roupas diferentes. Aproximou-se, pegou a minha mão e disse que havia herdado grande fortuna de um antepassado árabe. Foi buscar-me, pois dentre todas as mulheres de seu harém, amor ele só tinha por mim. 

EM VISITA A UM MUSEU. - Do Carmo


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EM VISITA A UM MUSEU.
Do Carmo

Em viagem ao deserto de Saara, visitei muitos lugares interessantes. Mas, Agadir trouxe-me lembranças de minha sonhadora adolescência.

Além dos livros que faziam parte do programa escolar, a professora de Português pedia que, nas férias, lêssemos dois títulos de escolha aleatória, os quais fariam parte de prova oral.

Antes de terminar o semestre, consultei a biblioteca do colégio e encontrei um título que me interessou “O Sheik de Agadir”, não lembro o autor.
 
Apaixonei-me pelo protagonista, sonhava com o príncipe do deserto, de pele queimada de sol, cavalgando um alazão negro. Ao devolver os livros, a bibliotecária perguntou minha opinião sobre as leituras. Meu coração pulava no peito sempre que falava do Sheik. Sorridente contou-me que tinha a continuação do livro, “O filho do Sheik”, imediatamente peguei-o e li com voracidade. Mais e mais me emocionava com aquele desmedido amor.

Do segundo livro, esqueci completamente.

De repente, saio do torpor das recordações, pois vejo misturado com peças muito antigas, a lendária “Lâmpada de Aladim”, com placa de identificação como sendo autêntica.

Ah! Se eu pudesse comprá-la, realizaria um sonho de mais de cinquenta anos acalentados.


O DUAS CARAS - Francisco Lucio Pereira


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O DUAS CARAS
Francisco Lucio Pereira

Ao ser apresentado a alguém, ele olhava de cima para baixo, com aquela cara séria esquisita, alguns mais ousados diziam:

— Ta me medindo por que vai me dar um terno?

A resposta era imediata:

— Quem sabe, um terno de madeira!

Assim era o senhor Ricardo, dono de muitas terras no interior de Pernambuco, ainda na época da escravidão.

Os escravos eram tratados com rigidez. Alguns até eram colocados no tronco por desobediência, outros sempre acorrentados.

Ele dizia que os negros de canela fina eram fujões, por isso aquele tratamento. Com os familiares, cara sempre fechada. Só com poucos mudava por pouco tempo.   

Os filhos começaram a ir embora. Até a esposa também.

Sozinho, amargurado, começou a andar pela floresta. De repente viu vários macacos, um estava quase morto caído, chegou perto, os outros correram.

O fazendeiro levou o bicho para casa tratou-o, e ao se recuperar o macaco disse gritando com medo:

— Onde estou? Cadê meus amigos?!!

— Calma, está em minha casa. O que? Você fala? Macacos não falam!

— Mas eu falo e cuido da minha família, onde estão?

— Ao redor da casa, pulando. Calma.

Uma grande amizade se formou naquele momento.

Depois de medicado o bicho pulou no colo do patrão.

— Obrigado. Tenho até nome, que o senhor me deu.

- É claro, Chico. Seremos sempre amigos, aliás meu único amigo, os outros se foram.

O tempo passou, quando Marcelo pensava nos familiares, vinha a tristeza, o macaco fazia macaquices tentando animá-lo, mas nada, via o patrão definhar naquele quarto sombrio sem esperança, depressão profunda, à noite choveu .
Ao amanhecer o sol raiou, Chico correu abriu as cortinas fazendo muito barulho.

De repente a porta se abriu, apareceram como por encanto, três garotos pequenos, trigêmeos, olharam fixo, sorrindo gritaram em coro:

— Vovô!!! Vovô!!! Marcelo Vovô!!!

 Logo todos se abraçaram

— Viemos, pai, viemos para ficar.


O fazendeiro se recuperou com rapidez. Passou a tratar todos de forma diferente. A cara mudou e daí pra frente foi só felicidade infinita.

INCERTEZA CRUEL. - Do Carmo

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INCERTEZA CRUEL.
Do Carmo


Aos trinta anos, ainda não sei quem sou. É muito estranho esse meu sentimento de insegurança.

Sou o caçula de quatro filhos, o único homem da casa. Vivo com minha mãe e três irmãs. Sempre convivi com mulheres.

Minha mãe trabalha como bibliotecária em uma escola de freiras, sai cedo e volta ao anoitecer. Nós ficávamos com uma babá e a vovó. Mais duas mulheres.

Em casa, as brincadeiras eram sempre com meninas. Na rua não podia brincar porque os moleques eram maiores. Restavam-me as meninas.

Hoje sou eu quem escolhe ou desenha as roupas das minhas mulheres, como chamo as maninhas. Escolho complementos e acessórios. Sempre sou elogiado.

Bem no fundo do meu íntimo, sei que gostaria de jogar futebol, tênis, assistir lutas de Box, mas como sempre a maioria ganha, eu minoria calada, fico no “tudo bem”.

Sou o motorista, acompanhante, conselheiro, e mil títulos de serviçal às ordens.

É só acenar, que lá vou eu.

Sou carinhoso, sentimental e muito sensível, gosto de servir minhas mulheres e participar de suas vidas.


Será que sou gay?

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Pé Grande - Christianne Vieira



Pé Grande
Christianne Vieira

Osvaldo e Ester caminharam muitos quilômetros até chegar à clareira. A cada passo o caminho se tornava ainda maior.  Calcularam  andar vinte quilômetros por dia, mas essa meta estava longe de ser cumprida.

Uma viagem de Aventura, seria o  tempero para suas novas vidas.

O roteiro foi pensado, por meses. Atravessariam um grande parque estadual. Planejaram o tempo e as áreas de acampamento. A mochila, outro desafio, devia ter o menor peso possível.

Eles se conheceram em um grupo de ecoturismo,  ambos gostavam da Aventura, de Liberdade, do desconhecido.

Já haviam percorrido três dos pontos de apoio do roteiro. As pernoites anteriores transcorreram tranquilas, muito  cansados, apos o jantar, nem o céu estrelado os mantivera acordados.

A próxima etapa seria puxada, montanha acima, Trecho íngreme, cheio de precipícios.. A vista era um bálsamo, para aliviar  os pés doloridos e   bolhas. A felicidade  em  chegar à cachoeira dourada compensaria qualquer sacrifício.

Atravessaram a clareira cheia de flores. O sol brilhava inclemente, só o céu trazia ânimo. Até o acampamento  da noite faltava um bom trecho, resolveram acelerar o passo. Osvaldo dava as coordenadas  tentando manter Ester animada. O cansaço ia e vinha como a brisa.

Após duas subidas pararam para tomar água e descansar um pouco. As mochilas pesavam tanto, como se o mundo estivesse nelas.

Ester estava faminta, queria montar  o acampamento da noite. Osvaldo começou  pela  barraca, e o fogo com gravetos. A comida desidratada, parecia um banquete. Ela pegou uma toalha, o sabonete três em um,  e a  roupa. Foi até o rio  se banhar. Osvaldo lhe deu um beijo carinhoso, disse que logo a encontraria. Ao entrar na água fria seu corpo ficou  anestesiado, acalmando os ferimentos. Quando já estava acostumada à temperatura, começou a relaxar. Ouviu o marido se aproximar.  Ele entrou no rio também. Trocaram carinhos, brincaram na água.  Ao sair Ester não achou a roupa. Osvaldo vinha logo atrás dela, enrolado na toalha, também não as encontrou. Estranho, algum animal poderia tê-las levado.

Encafifados, seguiram para o acampamento. O cheiro de comida estava delicioso. Sentaram-se em torno da fogueira e jantaram. Anoiteceu depressa, apenas  conseguiam ver, o tapete de estrelas  forrando o céu, de uma noite escura. Até que o sono falou mais alto. Apagaram o lampião, deixando só a fogueira para manter o calor. Eis que um vulto enorme passou próximo da barraca.  Um gigante  chacoalhando as folhas , e um cheiro azedo ficou no ar.

Eles se abraçaram, assustados. O melhor seria ficarem em silêncio. Não conseguiram dormir e a noite se arrastou, lentamente, até o amanhecer.

Já claro, saíram da barraca, amassados e devastados pelo cansaço, foram em busca de alguma pegada deixada pela criatura.

Viram enormes rastros. Tão grande que Ester cabia inteira dentro delas. O que podia ser aquilo? Resolveram partir para o próximo ponto. No caminho havia um empório de suprimentos, poderiam se informar. Foi um trecho difícil de cumprir. 

Chegaram à loja no entardecer, e no balcão um homem baixo com bigodes volumosos os atendeu. Após separarem alguns itens, foram até o caixa, e perguntaram sobre o gigante. Ele respondeu que havia uma lenda sobre o Pé Grande.

A criatura morava  em uma caverna do Parque. Nas noites de lua minguante, saia para caçar. Suas pegadas eram assustadoras. Como um Alert, levava o que encontrasse, como roupas e suprimentos, por exemplo. Existiam muitas histórias a seu respeito, diziam que era inofensivo, se alimentava de pequenos animais, mas encontrá-lo certamente seria um perigo.

O casal se entreolhou com expressão de dor e medo. Não gostariam de passar por isso novamente. Se amavam demais, nada de ruim os separaria.


Pagaram o homem, e seguiram para a Estrada. Iam pegar um ônibus de volta para casa. A aventura chegara ao fim.

O cãozinho aventureiro - Alberto Landi

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