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quarta-feira, 13 de maio de 2015

O CARPINTEIRO SOLITÁRIO! - Dinah Ribeiro de Amorim



O CARPINTEIRO SOLITÁRIO!
 Dinah Ribeiro de Amorim

Havia no povoado de Trás dos Montes, um carpinteiro que trabalhava muito bem, mas muito solitário. Vivia sozinho porque não tinha filhos e a esposa falecera.

Durante o dia, dedicava-se à profissão com afinco, mas quando chegava em casa, à noite, sentia-se triste e só.

Resolveu fazer um boneco de madeira, para, pelo menos, olhar para ele e ter com quem conversar, mesmo que não respondesse.

Criou, então, com carinho, um elegante boneco, em madeira de lei, com chapéu e tudo o mais: terno, gravata, botões, semelhante a um homenzinho de verdade. Só faltava falar.

Cada noite que chegava em casa, olhava para ele com alegria, inventando detalhes como uma flor na cartola, um bolso colorido, o desenho de uma casa em sua roupa, enfim, queria deixá-lo cada vez mais doméstico e amigável. Até seu gramofone, com músicas ligeiras, apoiado no ombro, colocou para que escutasse. Quem sabe conseguiria emitir alguns sons.

Reparou que ele não sorria, apesar de tantas palavras carinhosas que lhe dirigia. “Seria tão bom se você falasse”, pensou o carpinteiro. “Poderíamos trocar ideias engraçadas”. “Seria tratado como um filho”. Ouvira, há muito tempo, uma história de um outro carpinteiro, chamado Gepeto, que construíra um boneco que falava e andava. Quem sabe o seu também.

De tanto amar o boneco, pedindo que ele ficasse mais alegre e falasse,  ouviu uma resposta: “Meu espelho é você!” “Também gostaria de ter um amigo boneco para conversar, quando sai para ao trabalho e fico só.”

Mais que depressa, o carpinteiro pensou em resolver tal situação. Fez-lhe também um boneco ligado à sua mão por fios, um  fantoche, para ele movimentar, brincar e falar.

Notou, ao chegar à noite, que o boneco sorria alegre, esperando-o também para conversar. Aprendera  através do amigo novo que fizera.


Moral da história: “Nossa solidão é aliviada quando se alivia também a solidão dos outros!”.

A SAÍDA! - Dinah Ribeiro de Amorim


A SAÍDA!
Dinah Ribeiro de Amorim

Carlinhos, aos dez anos, aborrece-se muito com seu irmão mais novo, Luizinho, que destrói tudo o que é seu, correndo para não apanhar.

  Queixa-se aos pais, aos mais velhos, ninguém consegue dar jeito em Luizinho. Era um rebelde mesmo!

  Tem, então, uma ideia: prender sua atenção através de livros de histórias.

  O menino mal educado, começa a se interessar, sentando-se no chão,  ao lado do irmão, para ouvi-lo atentamente.

  Carlinhos escolhe as histórias de fadas, pois nota que são as que o irmão gosta mais. Inicia:  “A FADA LANA E O OGRO MAU!”

  “Era uma vez uma fada diferente das outras, muito alta, de membros longos, para alcançar e dominar toda a floresta, protegendo os seres que nela viviam. Seu nome: Lana. Não possuía asas pois conseguia chegar aonde queria com apenas alguns passos. Mesmo assim, tão grande, era bonita e boa, amada por todos.

  Certo dia surge um gigante, um ogro mau. Queria desafiá-la para uma luta, vencê-la com sua força e comer os bichos menores da floresta, prendendo os grandes para reprodução”.

  Luizinho, nessa parte da história, arregala os olhos, curioso e ansioso,  mas Carlinhos interrompe a leitura, mandando-o dormir. O menino, decepcionado, reclama, mas obedece. Até obediente  estava ficando.

  No dia seguinte, Carlinhos recomeça a leitura, fazendo-o primeiro arrumar seu quarto.

  Luizinho logo  senta aos pés do irmão e continua ouvindo:

“Os pés do Ogro eram enormes, estremecendo o chão quando andava, semelhante a  terremotos. Os bichinhos, coitados, escondiam-se em seus buracos ou tocas, esperando-o passar. Tinha o corpo peludo, braços compridos, mãos cheias de garras ao invés de dedos, rosto largo e feio, com orelhas semelhantes às folhas das palmeiras, que balançavam e ouviam qualquer tipo de som. Atentas a tudo. Seu nariz, comprido demais e achatado na ponta, sentia e pressentia todos os cheiros da floresta, descobrindo facilmente aonde se escondia cada animal. Instalou-se no local e ia comendo aos poucos cada bichinho que encontrava. Sua fome era insaciável.

  Fada Lana, ao caminhar com braços e pernas estendidos e elásticos, chega ao encontro dele, tentando puxá-lo pelo pescoço, fazendo enorme força. O ogro dá uma estrondosa gargalhada e arremessa-a longe. Pobre fada, sofrendo ao ver seu reino atingido e não sabendo como salvá-lo. Tenta amarrá-lo com cordas de cipó das árvores, mas o forte ogro arrebenta logo tudo com suas garras.

  Pensativa e triste recolhe-se ao seu canto predileto, uma imensa caverna dentro da montanha, meditando por longo tempo. Não estavam acostumados à violência e à maldade, tendo necessidade de descobrir uma estratégia. Ouvia, ao longe, o barulho  das atividades cruéis do ogro.

  Após muito pensar, resolve tirar da própria natureza a salvação. Esse maldito ogro, destruidor e carnívoro, tinha um ponto fraco quando comia demais: caia em sono profundo. Reúne-se, então com as chefes das abelhas e formigas, combinando derramar mel no corpo dele, enquanto dormia, formando esquadrão de insetos, abelhas e formigas que, enfileirados, atacariam o corpo do gigante dorminhoco, enchendo-o de picadas e mordidas, fazendo-o acordar e correr dali. Torcem todos para dar certo.

  O ogro, após fartar-se de várias aves da floresta, dorme profundamente, não percebendo a aproximação dos pequenos insetos, que espalham mel sobre todo aquele corpo horrendo.  Em seguida, o atacam ferozmente, em numerosos grupos, tornando-o escuro e mais feio, irreconhecível.

  Essa estratégia dá certo, pois o ogro acorda com gritos e movimentos terríveis, coçando-se e balançando-se, querendo expulsar seus atacantes. Não consegue e, desesperado, corre e atira-se num rio ali perto, quando enormes jacarés o cercam e o destroem, com  enormes dentadas.

  Fada Lana, feliz com o final desse drama, é cercada e aplaudida pelos seus amiguinhos da  floresta encantada, que continuou em paz! Abraçava todos ao mesmo tempo, com seus maravilhosos braços elásticos”.

  Carlinhos fecha o livro e observa seu irmão. Este, com rosto admirado e sonolento, pergunta quando lerá outra história!

Amanhã, talvez, responde ele, após minhas tarefas de escola.


  Luizinho diz “boa noite”, passando antes pela cozinha e dando uma lambida no pote de mel que estava no armário.

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