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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

COVARDIA OU AMOR? - Dinah Ribeiro de Amorim




COVARDIA OU AMOR?
Dinah Ribeiro de Amorim

  Rolo na cama revolta, lençóis amassados e espalhados pelo chão, não consigo dormir! Viro e espio a hora, ansiosa em ouvir o barulho da chave na fechadura. São duas e meia da manhã. Já deveria estar acostumada com isso, mas a ansiedade da espera é sempre a mesma. Toda noite a mesma coisa. Ele demora a chegar e eu sem saber se vem. Sai cedo de manhãzinha, dá um beijo leve em minha testa e um até logo distraído, avisando que talvez chegue tarde.

  No começo, perguntava o porquê desse trabalho noturno e, suas desculpas eram sempre as mesmas: excesso de trabalho, reuniões tardias, serões, sempre respostas atrapalhadas que saiam meio baixas, envergonhadas, até que desisti de interrogar. Acostumei-me com isso, com medo de perdê-lo para sempre.

  Afinal, tantos homens agiam assim! Eu não era a primeira mulher e nem seria a última a ser traída. Ficava às vezes pensando como seria ela: mais moça, claro, mais bonita, agradável, boa de cama, com certeza! Alguém com qualidades muito especiais para satisfazê-lo tanto!

  Fomos felizes no início de nosso casamento, parecendo que nunca haveria nuvens escuras a nos atrapalhar. Dificuldades financeiras surgiram, mas logo se dissiparam com sua mudança para um cargo melhor.

  Foi com essa mudança que aconteceram: excesso de trabalho, reuniões tardias, talvez alguma secretária nova, não procurei saber.

  Uma grande amiga, com quem me abri algumas vezes, aconselhou-me a segui-lo, ir verificar pessoalmente a causa da minha preocupação. Não tive coragem! E se realmente o encontrasse com alguém e tivesse que tomar uma atitude! Seria o fim. Prefiro esperar que, com o tempo, tudo passe e ele volte a ser o marido que sempre foi: amável, amante, presente, não tendo mais que olhar o relógio todas as noites, esperando-o chegar para dormir em paz.

  O tempo está passando, estou envelhecendo, nós estamos envelhecendo e percebo que aguento essa situação há muito tempo! Não tomo uma atitude nem ele! Se quisesse uma separação já teria falado. O que acontece conosco é meio sem explicação. Acho que nos acostumamos a viver assim. Eu sem reclamar, e ele a se acomodar.

  Covardia, medo de mudanças, falta de iniciativa, hábito, amor... Não sei!

  Quando pessoas íntimas me perguntam “como aguenta”, respondo: “Tem sido assim há muitos anos... Não tenho coragem de viver sem ele!”
                                 


MÃOS AO ALTO! É UM ASSALTO.- Dinah Ribeiro de Amorim



MÃOS AO ALTO! É UM ASSALTO.
Dinah Ribeiro de Amorim

  Minha turma era da pesada mesmo! Andávamos em bandos, saíamos à noite e voltávamos para casa ao amanhecer, quando tentávamos dormir e descansar um pouco das nossas atividades noturnas. Não temíamos nada e achávamos que, juntos, podíamos tudo. Não usávamos armas, chacos ou outros tipos de defesa, pois contávamos uns com os outros. Sentíamo-nos fortes, valentes, invencíveis.

  Mas, sempre acontecia alguma coisa, e, mais tarde, quando reunidos, lembrávamos muito dessas façanhas.

  Certa ocasião, na saída de uma festa, tivemos, como sempre acontecia, um imprevisto.

  Éramos esperados por outra turma ou gang conhecida no bairro, muito da pesada também, querendo medir força e avisando logo que era um assalto!

  _ Mãos ao alto! – ordenaram eles. Ou passávamos a grana ou entrávamos no pau.

  Preferíamos a briga porque éramos fortes,  e grana não tínhamos mesmo!

  Foi um pega daqui! Bate acolá! Caras amassadas, narizes sangrando, moleques   no chão... Luta geral...

  Conclusão: se perguntavam quem ganhou, até hoje não saberíamos responder. Lembrávamos somente que todos nós ficávamos caídos, machucados e doloridos. As duas turmas levantavam com dificuldade. Íamos embora, cabisbaixos e mudos; amaldiçoávamos esse final de festa infeliz! Não pensávamos em revanche, achando que tudo fora normal!


  Já era a competição para descobrir o mais forte. Molecagens de nossa juventude imatura

Quem era ela? - Hirtis Lazarin

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